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Priberam » Palavra do dia

31 outubro 2010

Tautologias

- elo de ligação
- acabamento final
- certeza absoluta
- quantia exacta
- nos dias 8, 9 e 10, inclusive
- juntamente com
- expressamente proibido
- em duas metades iguais
- sintomas indicativos
- há anos atrás
- vereador da cidade
- outra alternativa
- detalhes minuciosos
- a razão é porque
- anexo junto à carta
- de sua livre escolha
- superávit positivo
- todos foram unânimes
- conviver junto
- facto real
- encarar de frente
- multidão de pessoas
- amanhecer o dia
- criação nova
- retornar de novo
- empréstimo temporário
- surpresa inesperada
- escolha opcional
- planear antecipadamente
- abertura inaugural
- continua a permanecer
- a última versão definitiva
- possivelmente poderá ocorrer
- comparecer em pessoa
- gritar bem alto
- propriedade característica
- demasiadamente excessivo
- a seu critério pessoal
- exceder em muito
- monopólio exclusivo
- já não há mais
- ganhar grátis
- viúva do falecido

29 outubro 2010

Olarê!

Olarê ! Gilinha ! Gilinha ! A menina já chegou da Turquia ? Então ,ôlhe, mantenha a burca, querida, que isto não está pa brincadeiras. Olhe, barrique-se em casa, ou meta-se num sarcófago! Sabe porquê ?Vou explicar:

Um professor da Dren, tá a ver, aquele organismo amoroso, que nos dá ordens para nós sermos cada vez piores professores, processou um colega nosso, pobrezinho.E sabe porquê ? Porque como ele é pobrezinho, disse um nome feio, como só os pobrezinhos dizem, e sobre a mãe do nosso Zézinho Sócrates e disse também  umas coisas horríveis sobre bananas e não sei que mais. Podia ter dito sobre mangas ou outra fruta assim mais chique, mas não ,lá lhe fugiu o pézito pó chinelo e falou de gostos de macacos, qué bichos que os filhos dos pobrezinhos adoram.Bom, enfim, cada um é como é e temos de ter pena deste póbezinho, coitado !
Eu tou a alertá-la, porque tendo em conta as coisas que nós dizemos, corremos o risco de:
  1ºPassarmos por pobezinhas a dizer aqueles palavrões;
  2ºApanharmos um processozito e não podermos organizar
    mais viagens ao estrangeiro. Com quem ? Com pobezinhos!
  3ºTermos de fazer de conta de que gostamos daquelas burocratas tão queridas da DREN.
  4ºFicarmos imediatamente titulares, sem as emoções
    do concurso e sem ouvirmos aquelas conversa da sala
    dos professores, sabe quais são: grupos de pobezinhas
    juntam-se em trabalho de par e contam coisas horríveis por que passaram, como por exemplo, dar aulas preparadas de véspera, acharem que os alunos não são burros, fazer investigação sobre matérias a leccionar, tratar toda a gente como gente, etc, tudo coisas que as traumatizaram tanto que elas agora fazem já "workshops" de catarse colectiva para poderem ter uma vida normal;
 5º e pior de tudo-virmos a ser coordenadoras de D.T.s ,que em Português quer dizer Directores de Turma, fazermos parte de E.P.ÊS QUE SÃO EQUIPAS PEDAGÓGICAS, MAS SEM fair-play nem desportivismo britânico, nem nada de europeu !


Ai, que canseira ! Estou estoirada de pensar no nosso ensino pobezinho e vou dar um pulo à picina, mas vou-me enfiar naqueles sacos chiques em que os americanos metem os mortos.  Mergulho e acho que ainda fico com mais ar para respirar !
Caturreira !

Fátima Pais-2009
   

Ode to Gilinha

Ode to Gilinha
  Lo,Gilinha !
  Master of our History
  Do you exist or
  art thou a vision
  of what a master
  should be ?

  Lo, Gilinha !
  Do tell us the secret
  Of  thy humoured spirits
  Of  thy way of being
  Of  thy wit.

  Lo,Gilinha !
  Thou art History
  In the story
  Of our lives
  That you have turned
  Into a school fairy tale.

  Lo,Gilinha !
  In your voice we hear
  Sweet sounds of children
  Of  the sort we should
  Keep for life
  As golden treasures
  Of human essence .

  Lo,Gilinha !
  Keep on in laughter
 
  Fátima Pais- sometime in 2009

28 outubro 2010

Criar uma situação de suspense...será que consegui?

Abri os olhos para a escuridão. Não sabia onde estava. Tentei estender os braços, mas não consegui. Depressa percebi que estava encerrada num espaço pequeno e almofadado, com um cheiro estranho que impregnava as minhas narinas.
Aos poucos, comecei a lembrar-me da colisão de dois carros, do barulho ensurdecedor de sirenes, do burburinho de um hospital, do choro de uma criança e das súplicas de um homem. Lembrei-me do acidente. Lembrei-me de entrar no hospital e de ver as minhas mãos e o meu corpo ensanguentados. E depois, nada. Foi então que percebi onde estava e o que me acontecera. Estava dentro de um caixão, vários metros debaixo do solo.
Senti o sabor do pânico na boca. Rasguei o tecido que me envolvia. Esperneei e contorci o corpo na busca vã por uma saída. Arranhei a madeira que me encerrava. Gritei. Gritei até ficar rouca.
Por fim, rendi-me ao desespero e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Não podia fazer nada. Não havia salvação possível. Recordei o rosto do meu filho, os seus olhos brilhantes e o seu sorriso radiante. Nunca mais o veria.
Começava a ser difícil respirar quando as ouvi. Duas vozes acima do local onde me encontrava enterrada. Estavam a metros de distância, mas mesmo assim conseguia ouvi-las. Senti uma luz acender dentro de mim. Murmurei uma prece. Procurei pela minha voz. Estava fraca, mas ainda podia gritar. Voltei a espernear e a arranhar as paredes do caixão. Eles tinham de me ouvir. Não podia parar. Não podia desistir agora.

Patrícia Cálão
27/10/10

Don Antonio

Exercício página 47
Don Antonio, fale-me de si.
Don Antonio, Don Antonio, fica-se Don com a velhice, e!  Sou Antonio Grazzi. Chame-me Signor Grazzi.
Quer então saber di me?
Ecco, não há muito para dizer, 75 anos são muito tempo, mas tirando a minha infância aqui, a minha vita foi sempre a mesma.
O Babbo meteu-me nisto sem eu me aperceber. Pedir soldi ao merceeiro e  ao carniceiro para mim não era roubar- era como ir buscar pão ou leite a mando da Mama. Não tinha de pagar, ficava na conta.
Sabe que a Mama cantava muito bem? Sabia tudo o que agora anda pelos discos ou CDs ou lá o que é e muito mais.  Quando o Babbo foi assassinado, ela vestiu-se de preto e nunca mais cantou.
Tenho pena, ainda a ouço e vejo a cantar e a lavar roupa, ali, ali mesmo debaixo daquela buganvília, da amarela . Que voce, Dio!
Scusi, choro sempre que penso nela!
Quando ela morreu vivíamos numa casa boa em Nápoles. O Babbo comprou-a a uns condes de Firenze, parece que  precisavam de dinheiro. Una bella casa, ma, volto sempre aqui, onde me sinto bem. Não me dou com o Inverno. Já basta o frio da idade.
Venha por aqui, signorina!
Levantou-se e tropeçou. Cheguei-lhe a bengala, recusou. Dirigiu-se a uma arrecadação, com passo firme, apontou-me as buganvílias, a amarela e a vermelha. Vê a amarela? Está em flor.
Claro que estava, porque é que ele tem de me dizer isto?
Venha, venha! Abra a porta verde, empurre!
Entramos.O Signor Grazzi apontou para uma caixa de madeira velha, já corroída.
Guardi, aqui está a mia vita ! Cose, solo cose! Dois  tiros da que está por baixo cegaram-me!
Fez um esgar que nunca tinha visto em ninguém. A tez queimada pelo sol ficou cor de vela e Don Antonio caíu.

17/10/2010


Ecos de Silêncio























Ecos de silêncio


Insinuosas são

As marcas decalcadas

Nos espelhos da memória

Ecos rasgados

De um passado presente

Acometido por silenciosos

Escritos flutuantes

Sobre um céu de sílabas

Inacabadas.


Florbela Ribeiro®
















Quem disse que o mar faz morada nos meus olhos, mentiu.
Só a chuva e o orvalho da noite aqui repousam.

FR®

The bomb that wouldn´t go off

Página 63

“You wait for me, baby!
You wait, you damn thing!
Now, let´s see where you are!
There, baby, here I am, to tear you apart,
you bloody thing! Bastard!
Ready to go off, you are, just won´t let you do it!
Now, be a good girl, and just let me
get to your bowels!
Yellow? Wher´s the fucking red wire?
WHERE ARE YOU?
WHERE ARE YOU?
God, two minutes!
Now, YOU GET TO MY FINGERRRS!
I´ll pull you up in a second!
In a second, CAN  YOU  HEAR ME?!?
Now, don´t you resist! Don´t! No!No!
Got you!
Now, carefully, one-two-three-four!
There! THERE! Dead! Go t´ hell!
Uff!

Oh, God!

The Bride

Página 47

Ai, Marta, duas horas da manhã! Só te faltava esta!
Vais estar morta amanhã, às quatro da tarde, sem sesta!
Marta, dorme! Não é um exame, não vais chegar atrasada! PODES chegar atrasada!
Está tudo pronto!
Tudo pronto? Bom, ainda tens de dar um pulo ao Corte Inglês, tens o cabeleireiro, bolas, podias ter marcado outra hora! Vais esperar séculos! Ok, tens a marcação, mas num sábado?
Marta, dorme! Está tudo controlado!
Vestido, roupa para sair, está tudo, Marta!
Vestido! Quem te mandou fazer um vestido com cento e sessenta e dois  botões! Muito romântico, mas cento e sessenta  dias de namoro não são cento e sessenta e duas pérolas para abotoar! Oh, não! Um pneu! Engordaste! Veste-o outra vez, ainda há tempo de a mãe te alargar as pinças! Claro, fica a marca, mas..ninguém vai notar! Ninguém vai notar! TODOS VÃO NOTAR, MARTA!
Vais vestir e depois sossegas!
Uma mancha! Quem é que deixou a Ritinha andar aqui com mãos cheias de marcador?
Marta, porque é que tu deixas a tua sobrinha mexer em tudo? Ainda não tens filhos e já estás a abrir precedentes! Já sabes que a Ritinha é uma querida, mas não podes deixá-la fazer tudo o que ela quer!
É verdade! O vestido da Ritinha!
Vai lá ver se ela não foi lá ver o tecido com os dedinhos!
Claro que não, ela nem chega ao cabide!
Vai lá! Marta, o vestido tem desenhos cor-de-rosa! Mata a Ritinha, estrafega-a, fecha-a na garagem! ´Tadinha da Ritinha, até é giro, ela exprimiu-se! Pronto, quis dar o toque dela! Dizes que agora se usa!
Marta, deita-te! Dorme! Toma um comprimido!
Comprimido? Não, nem pensar, depois não acordas!
Vai ver os sapatos!
Estão ali, vou experimentá-los outra vez!
Ai, que é isto? Agora tens vertigens, não te seguras neles!
Marta, como é que vais aguentar horas em cima de uma corda bamba?
Aguentas, até corres de tacões!
Está bem, corres de tacões com roupa normal, agora com estas saias todas, tão compridas e com a cauda? Correr, tu nem vais conseguir mexer um pé! Parva, dez centímetros chegavam perfeitamente, isto é uma escada, vais ter altitude e não altura!
E se ficas mais alta que o Hans?
Ó, o Hans é lindo, é enorme, é é normal, quer dizer, um metro e setenta. É normal!
Marta, tu medes um metro e sessenta e oito! Mais quinze centímetros?!
Chama o pai, ele corta-te o tacão!
Marta, não chames o pai nem a mãe! O pai vai começar com a gracinha do non si debbe mai andare in Germania, com o ainda haver tempo para pensar e o Hans não ter emprego,  a mãe com  a choradeira  e com o a outra aparecer com o filho dele!
Marta, arranca os tacões, tira a mancha do vestido, casa e dorme!



Do outro lado

Do outro lado

Já deve ter acabado o exame. Que sono!
Tento virar-me para o outro lado e não consigo. Isto deve ser da anestesia.Pelo menos dore não tenho, mas não me consigo virar.
Sinto uns grãos nas mãos.Que será isto? Uma agulha pica!
Grãos e um cordão? Que roupa é esta, tão apertada? Que me lembre não tenho pijamas de veludo, e sinto os os pés inchados, dentro de sapatos!
Estou louca, isto só pode ser da anestesia!
Piorei dos olhos, agora vejo tudo como se tivesse tule à minha frente. Faço isto e a seguir vou ser operada aos olhos. Estou farta de não ver bem, agora faltava-me ver tudo através de um véu!
Já estarei no recobro? Que barulheira!
Há gente que não sabe estar doente. Será preciso chorar tanto para aguentar uma dor?
“ Ai, a nossa stôra!”, ouço eu.
Como é que os miúdos entraram aqui? Nem se pode estar doente.
Está toda a gente a chorar!!
Uma pancada? O que é isto? A voz da Ermelinda? A sussurrar? Ouço esta voz, é mesmo a dela: “ Fica aí sossegadinha, minha linda! Para teu governo, ficas a saber que troquei os papéis das matrículas. A cruzinha que estava em Alemão passou para Espanhol. Era isto a dinâmica!”
Estou a delirar, já não deve ser da anestesia. E está tão escuro! Quantas horas é que eles me terão estado a retalhar?
Não me consigo virar, que dores nas costas. Detesto macas!
Macas de madeira ? É Portugal!
Madeira? Parece um caixão!
Não tarda muito que tudo venha a ser de madeira.
Que sono outra vez! As enfermeiras que tratem de mim!

27/10/2010

25 outubro 2010

Exercício 2: Contar vs. Mostrar!

 Olá a todos,

Confesso que tive dificuldades em resolver este exercício na aula, talvez devido à  frase não ser minha, mas sobretudo porque  no momento não consegui identificar características mais específicas e objectivas para descrever o "ataque de pânico". Estava colada à frase que tinha escrito, tendo-me limitado a descrever um estado ansioso ou de angústia. Por outro lado, também acho que para fazer descrições convincentes temos de ter conhecimento da causa/estado/situação; vivências ou muita capacidades de interiorização/ absorção do que nos rodeia. Em certos momentos da minha vida, por vezes, acho que tenho essa capacidade, mas ao realizar este exercício, concluí que estou longe de o que conseguir...mas tudo se treina e tudo se aprende...ou quase tudo...mas escrever também é um acto solitário e isolado e na aula não sinto essa privacidade...

Esta é  a minha nova versão do texto que escrevi na aula, completamente reformulada e melhorada!!!! Aqui vai:

Relembro a frase ( "O Gustavo está a ter um ataque de pânico.")

 Já berrei, esperneei e transformei o meu quarto num enorme lago de lágrimas cristalinas. Atirei a jarra para o chão, bati com as portas e fechei  os armários para não me ver ao espelho. Também já fui para dentro do armário. Agora deambulo pela casa, sinto as mãos suadas e o rosto a estremecer, grito sem me fazer ouvir. Há um eclipse de tristeza na minha alma e não consigo respirar. As raízes do velho carvalho do meu jardim parecem agarrar-me o pescoço como mãos pesadas para me sufocar e, ao mesmo tempo libertar deste sofrimento atroz. Estou perdida, desorientada, desiludida e amargurada. As lágrimas escorrem-me sem esforço e não consigo parar de pensar no que ele me fez.Como é que ele foi capaz de me trair? E  com a minha melhor amiga? Será que sou eu que me sufoco a mim mesma ou fiquei com a marca da traição gravada para sempre? Preciso de desabafar, de me tratar! Está decidido, vou consultar uma psicóloga, não aguento mais! Qualquer dia  ainda vou parar ao hospital! E tudo por causa daquele parvalhão, que não vale um tostão!

Sei que ainda posso melhorar  e por isso agradeço as vossas sugestões...venham elas...

Antes de terminar, quero acrescentar que apesar de ainda nem ter passado semana da criação do nosso blog,  já sinto os benefícios desta troca de ideias, que tem sido tão profícua e intensa... Agradeço aos meus  colegas "bloggers" e espero que esta simples ideia tão comum de criar um blog, dê frutos num futuro tão próximo quanto risonho para todos.

Boas correcções e boas leituras...

Ana

24 outubro 2010

Exercício 1: descrever um objecto sem utilizar o sentido da visão!

Nova versão...
Entrei apressada e ansiosa. Sentei-me no meu lugar, junto à janela. Tu corrias, veloz como uma gazela e eu, apesar de estar quentinha e aconchegada, tinha pressa de chegar à escola. De repente, senti um solavanco. Tinhas parado…e o motorista anunciou:
– Temos um pneu furado!
“Tinha que ser logo hoje” – pensei – “no dia do teste de Matemática. Não me podia atrasar, se não o professor já não me deixava entrar.”
– Vou demorar meia hora a mudar o pneu! – gritou o motorista.
“Estava perdida! Não ia conseguir chegar a tempo!” Decidi apanhar um táxi, pois ainda tinha algum dinheiro. O meu pai dava-me uma mesada. Não era lá grande coisa, mas como era poupadinha, ia dando para os gastos! Ao entrar no táxi, tive uma sensação estranha – algo me dizia que naquele dia não ia chegar à escola. Depois de algumas voltas à cidade, comecei a ficar enjoada e aflita, pois parecia que ia esquecer-me da matéria do teste. Quando ouvi uma voz parecida com a do professor de Matemática, estremeci e dei um salto gigante, que me transportou de novo para dentro do autocarro. Subitamente, questionas-te-me:
– Olá! Queres fazer uma viagem mágica? 
 Fiquei confusa, pois não sabia quem é que estava a falar comigo. “Que coisa estranha” – “devia ser do cansaço” – pensei – “ou se calhar ainda estava meia a dormir.” Belisquei-me várias vezes para ver se acordava. Fechei os olhos com muita força e fui abrindo um de cada vez, espreitando sorrateiramente como quando se joga às escondidas. Continuava tudo na mesma e tu cantarolavas aquela canção, que me era tão familiar, mas da qual já não me lembrava do nome. Estava a ficar bloqueada, não me lembrava de nada, nem da canção, nem da matéria do teste…Discutia estes assuntos com a minha memória, quando me disseste, num tom exaltado:
            – Sim, sou o Autocarro e estou a falar contigo! E fiz-te um convite: aceitas ou não?  
 Com um ar meio aparvalhado e assustado, acenei que sim. Sentia-me perdida como se estivesse no meio daquele nevoeiro cerrado, que vem do país do chá e dos castelos. Ia embarcar numa viagem mágica. Estava excitadíssima, mas tinha receio, tal como quando tinha testes de Matemática. Não sabia muito bem o que me ia acontecer, mas tinha aquela pontinha de esperança que ia superar mais aquele obstáculo.

ECUA @ Facebook

Criei o grupo Et Quoi : ECUA no Facebook.

Uso esta rede social muito pouco, mas talvez seja uma plataforma melhor que o blogger, não sei... Logo se vê a receptividade, e se vale a pena manter o grupo.

Exercício 1: O Junco

Pediram-me para tocar e toquei. O polido quente contrasta com a superfície fria do marfim. Faz lembrar um pedaço de madeira a flutuar num mar de leite. O cheiro velho recorda países antigos, exóticos. As arestas pontiagudas do mastro são como as agulhas do tempo.

Brinco com ele nos meus dedos. Tão pequeno. Tão delicado. Certamente obra de algum mestre com mãos viajantes. Fecho os olhos e sinto. Os aromas, os sabores, os ruídos dos mercados asiáticos. Suspiro. Continuo a navegar no tempo e no meu pensamento. Respiro a brisa dos portos distantes. Escuto o canto de sereia dos marinheiros. Saboreio o sal nas velas gastas pelos ventos. Então peço: “Leva-me para longe. Mais a Oriente!”

E foi assim. Remando no meu mar de recordações, numa miniatura de marfim, que fui parar a um pequeno porto encaixado na costa do sul da China chamado Macau.

Quando lá cheguei tinha 14 anos (quase 15). Macau não passava de um lugar distante que a minha mãe falava nos serões da minha infância portuguesa. E agora estava ali. Presente não só na minha mente como também no meu físico. Tão dolorosamente próximo. Com todos os sabores e cores do Oriente. Ofuscando a minha ingenuidade de menina-mulher.

Pois é, ali estava eu. Na terra onde nasci, na terra que me tinha dado os olhos em bico, a avó chinesa, e os sonhos povoados de budas barrigudos e dragões embutidos em arcas de cânfora. Agora só me restava aceitar. O barco já tinha partido e eu tinha ficado em terra. E Macau estava ali, à minha frente, à minha espera. Dei um passo. Devagarinho. E entrei no turbilhão euro-asiático que me iria envolver nos próximos oito anos (e o resto da minha vida).

O junco fazia parte desse turbilhão. Vi-o pela primeira vez da janela do meu quarto. Parado ali nas águas quietas e castanhas do rio Pérola. Não fazia a mínima ideia do que estava ali a fazer. Mas na minha ingenuidade de recém-chegada também ainda não sabia muito bem o que era um junco. Ouvi um ruído cansado de chinelos a arrastar no chão. Virei-me. A minha empregada Maria entrava no meu quarto com um monte de toalhas nos braços.

- Maria, que barco é aquele? Perguntei apontado para a janela.

Maria, que era chinesa mas filha adoptiva de um casal macaense, respondeu-me naquele “chinoportuguês” castiço que tinha aprendido por casa:

- Tai-siu-ché (que queria dizer filha mais velha em cantonês) é um junco-áh.

- E o que é um junco-áh?

- Ai- Tai-siu-ché!! Então não sabela que junco é baco-áh!

- Queres dizer que o junco é um barco?

- Ay-lá! Junco sê baco. China usá junco pa apanhar peixe. Peixe muito bom. China viver no junco. Tudo viver no junco.

- Como é Maria? China? Queres dizer os Chineses? Ah, está bem. Então eles vivem nos juncos? É isso?

- Ay-lá! China viver no junco. Comer no junco. Pescar no junco. Dormila no junco. Até cão e galinha viver no junco.

- Como? Fazem tudo no junco? Até têm cães e galinhas no junco? Que giro! – Respondo toda contente - Mas diz lá Maria, o que é que está o junco ali a fazer? – E apontei para a janela.

Maria olha-me como se eu não regulasse muito bem. Abana a cabeça. Solta dois ou três “Ai-yás” e responde:

- Junco ir muito longe e voltar com peixe. Muito taifoon. Muito peligroso. Muito china molir. Ai-! Muito mau. Má sorte. Agola junco descansá. E China pedir muita sorte e peixe à A-Má (que é a deusa protectora dos pescadores chineses).

Vira-se. Abana a cabeça outra vez. Suspira. Resmunga mais um ou dois “Ai-yás” e diz ainda:

- Tai-siu-ché! Hoje almoço muito bom. Tu gostar muito. Hoje comer português cozido.

Franzi os olhos num grande ponto de interrogação. Mas ela já ia chinelando até à cozinha para remexer nas panelas onde fumegava um cozido-à-portuguesa.

E eu ali fiquei. Especada na janela. Olhando para o junco parado no horizonte. Pensando nos pescadores chineses. Nas suas famílias. Nos seus destinos. Nos tufões que tinham enfrentado. Na pesca nos mares amarelos da China. Nos seus cães, nas suas galinhas, e até no “português cozido” que ia almoçar.

Chopin, Nocturne, opus 27 #2, piano solo

ex.2 » contar vs mostrar


Não me apetece voltar ao hospital. Estou farta, farta! É suposto eu afinal lutar porquê? Os meus dois filhos já os criei, com sacrifício e esmero; eles próprios são hoje bons pais, como eu fui. Divorciada, devo agora manter-me atraente para quem? Para os solteirões do clube de leitura? Para agradar aos meus filhos? Receber os netos? Não!

Já fiz tudo aquilo a que uma mulher de origens modestas pode aspirar. Visitei até a Torre Eiffel; levou-me o Alberto, quando ainda éramos felizes, e beijámo-nos lá em cima — o vento a soprar-me nos cabelos e aqueles braços a apertarem-me contra ele, com desejo, apaixonado. Fiz também o curso de modelação em barro com que sempre sonhei; ainda guardo todas as peças, belas, menos o cinzeiro que lhe ofereci — cabrão! —; não cheguei a participar em nenhuma exposição, mas nunca tive muito tempo livre, nem o talento...

Agora, quero apenas olhar os gatos, da minha janela; sossegada, enquanto bebo o meu chá de jasmim; longe de tratamentos que só me causam dores e angústia, que fazem de mim mais uma preocupação, um estorvo. Continuar com esta tortura para quê? Para ganhar mais uns meses? Uns anos? Não, estou farta!

O que mais posso agora esperar, que não dores e desilusões? Não acredito num futuro onde seja feliz; estando o meu corpo deformado, incompleto.

Não; já tive a minha quota-parte de felicidade.... Até já fui a Paris, cinco dias; fiz amor apaixonadamente, todas as noites; comi croissants; passeei no meu vestido novo — ofereceu-mo ele, uma semana antes de partirmos — apreciando os pintores, ali, ao vivo, na minha frente, colorindo as avenidas...


exercício proposto por uma colega:
"mostrar que a Inês tem canco da mama"


novembro de 2010

ex.1 » descrição


Seis.

Enquanto me marchava lentamente pelas costas acima, consegui distinguir-lhe perfeitamente cada umas das seis patas, rígidas mas suaves. A pressão ligeira que exerciam, ao pousarem-me na pele despida, produzia um efeito relaxante juntamente com uma sensação de calor. Estas ondas mornas, mais psicológicas do que físicas, ecoavam-me pelo dorso banhando-me de saudades dos teus dedos longos de aranha. Cheguei mesmo a sentir o arrepio das tuas unhas negras... beijando-me.

Quando chegou ao meu ombro esquerdo, não resisti a tocar-lhe o corpo ovalado: absolutamente liso e simétrico; não lhe notei qualquer diferença entre as zonas anterior e posterior. Quando a cariciei com a ponta do indicador, com aquela vontade de puxar-te a mão para os lábios e beijar-ta, a criatura ronronou-me ao ouvido, exactamente como tu o fazias quando me recolhia no teu peito perfumado de cerejas vermelhas... prontas a trincar.

Curioso, mas demasiado sonolento para acender a luz do quarto, peguei na bichinha com cuidado e guardei-a na gaveta da mesinha de cabeceira.

Puxei o lençol, que me havia descaído para o fundo das costas, e rendi-me à saudade de acordar no teu aconchego... enquanto a manhã navegava rumo à minha janela.

outubro de 2010

23 outubro 2010

Sharing some beautiful sentences!

" It does not matter how slowly you go, so long as you do not stop." Confucius

" A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every difficulty."
Winston Churchil

"Anyone who has never made a mistake, has never tried anything new." Albert Einstein

"No one can make you feel inferior without your permission." Eleanor Roosevelt

" A quitter never wins and a winner never quits." Napoleon Hill

"Let me tell you the secret that has led me to my goal. My strenght lies solely in my tenacity." Louis Pasteur

and finally,

"Imagination is more important than Knowledge." Albert Einstein

You may reflect on this..if you have the time, the energy and the will...

Have a great weekend

Ana

22 outubro 2010

O VALE DAS IGREJAS BRANCAS

Eram doze as igrejas brancas que sobressaíam dentro do vale. Primeiro quebraram-se os vidros das janelas, depois todas as portas apodreceram e os pregos baloiçavam no meio da carne infecta das tábuas cruzadas que estavam cheias de buracos.

Desfizeram-se naquele ano que choveu todo o verão até à primeira feira de Outubro. Os pregos sustinham bocados de madeira que formavam uma transparência que mais parecia uma teia de aranha. Um dia de grande vento, os pregos começaram a voar e não ficou nem sequer a sombra das portas.

Quando os pardais se puseram a fazer balbúrdia lá dentro, o ar ficou cheio de penas que caíam no chão como se tombassem das asas dos anjos em voo no tecto.

De repente, uma noite, as igrejas ruíram todas juntas.

Um montanhês que vive abaixo de Badia ergue a mão direita com o cajado e aponta lá no fundo do vale uns montões de pedras e caliça brilhantes como baba de caracóis.


Tonino Guerra, in O LIVRO DAS IGREJAS ABANDONADAS

Exercício 2: Pura Magia

Caros velhacos e velhacas,


Lembram-se do "Márcio é um ilusionista sem braços?"

Pois é, obrigado pelas vossas palavras encorajadoras e videos fascinantes sobre o tema. Foram a minha fonte de inspiração. Custou mas acho que finalmente consegui dar um pouco de vida ao pobre Márcio. Aqui vai. Espero que gostem.

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As cortinas abriram-se e os holofotes focaram-me mesmo no meio do palco. O silêncio caiu sobre a plateia. Fiquei apavorado apesar de as luzes me ofuscarem. O choque na sala era tão intenso que quase se ouvia a respiração e o horror espelhado nos olhos.


Fiquei sem saber o que fazer. Assim, sem jeito. O coração começou a bater apressado no peito. Tinha que fazer algo. E rápido. Antes que as centenas de olhos que me fixavam se apercebessem do suor que já borbulhava na testa.


Respirei fundo. Sorri. Com um leve movimento de mangas vazias fiz uma vénia. Dobrei-me e retirei duas bolas multicolores. Rapidamente, com um único aceno da cabeça, pu-las a dançar no ar fazendo-as depois desaparecer no bolso esquerdo, de onde retirei com os dentes um lenço de seda.


Os olhos continuavam a fitar-me. Expectantes, duvidosos ou maravilhados? Talvez… seja como for, não podia falhar. Esta era a minha oportunidade.


Sorri mais uma vez. Lancei o lenço ao ar num gesto de bailarina e deixei-o pousar suavemente no meu pé esquerdo. E, com um rápido trocadilhos de pernas, deslizei-o para dentro das calças. Depois, com o pé direito fiz aparecer um ramo de rosas vermelhas! Aí está! Pura magia. O meu truque mais complexo. Trabalhado até ao detalhe: a ilusão perfeita criada apenas por gestos rápidos.


Rodopiei os pés. Levantei a cabeça. Apanhei as rosas com a boca e fui hospeda-las no colo da rapariga de olhos tristes sentada no lugar da frente. Ela ergueu-se e gargalhou. A plateia rebentou numa onda de aplausos.


Fechei os olhos. Deixei-me envolver pelo rugido da sala. Ah, como é bom o sabor do sucesso. E num último gesto, abrangi a plateia num largo abraço dos meus braços inexistentes. Tinha conseguido mais uma vez. Afinal os braços não eram assim tão importantes. O que contava mesmo era a ilusão.

21 outubro 2010

Publicar Online

Vi na telejornal há uns tempos falarem de um site onde se podia publicar obras inéditas a preços muito razoáveis. Fiz a minha pesquisa e lá deparei com o tal site.
Agora compartilho-o com vocês, porque sei, que tal como eu, também sonham um dia publicar algo.


Boas escritas :)

Chainstory!

Hey there,

Pensei que poderíamos escrever uma história acerca da festividade americana que se aproxima, sabem qual é?

 Não ouvi...lol...que disseram? LOL

Podia ser um conto...aquele género literário que tem características tão específicas e depois há excepções fabulosas como o "Christmas Carol" do Charles Dickens, que foge à regra não só no número de personagens, mas também no número de páginas e até no enredo...Mas mesmo assim, teoricamente ando a documentar-me mais...é um género que me interessa particularmente e em Portugal escreve-se pouco!

E já agora alguém sabe explicar a diferença entre contos (tales) e short story...? Lanço o desafio...gostava de perceber melhor, com a vossa ajuda, claro, a dicotomia entre estes dois géneros...se puderem ajudar...agradeço!

A ideia  é, então, voltando ao que interessa, escrever um conto em cadeia...eu começo e vocês continuam...cada um faz um parágrafo ou dois no máximo, e no final vamos ter um conto escrito por todos...será que conseguimos? Até podemos arranjar umas ilustrações e enviar para uma editora...LOL

Escrita em conjunto...um exercício paradoxal, muito interessante, mas complicado...que vos parece?

 Narra assim o início do meu/ nosso conto:

"Era uma vez uma bruxa, que não era nem boa, nem má. De nariz pontiagudo e chapéu aroxeado, Damra sobrevoava a cidade na sua vassoura ferrugenta e gasta, companheira fiel de todas as horas. Nesta época do ano, o cheiro das primeiras tartes de abóbora e o rebuliço das compras dos saquinhos de doces lembravam-lhe do seu dever de bruxa...e também lhe traziam à memória os ensinamentos da sua mãe. Ela dizia sempre que o Outono era a estação das mudanças interiores e exteriores, tempo de arrumações e limpezas, reflexão e progresso...Havia muito para fazer para além de varrer as folhas da entrada do castelo. Havia rituais de Outono, feitiços específicos que tinham de ser rigorasamente cumpridos...
Damra reclamava sempre muito destas tarefas, pois naquela altura não compreendia a sua importância.  A sua mãe contra-argumentava:
- Não sejas preguiçosa nem lamechas. Não custa nada! Se fizeres tudo direitinho, ensino-te um feitiço novo. Queres?
    to be continued...


Se não vos apetecer continuar...eu prometo que continuo...mas tenham liberdade para corrigir e ajudar a melhorar o que vos parecer menos bem...sejam "sweet" nos comentários...mas digam a verdade...lol...

Acho que o talento é relativo, mas sei que não sou tão talentosa quanto gostaria, mas imaginação não me falta, isso sei que sim...pode ser que um dia, consiga chegar ao meu sonho...de escrever para crianças e jovens...quem sabe...daqui a uns 20 anos!!!LOLOL


SeeYa
Ana

20 outubro 2010

Et Quoi

et quoi? cha la la!

wtf is ET QUOI? f*kin' french?

nopes! ET QUOI comes from ECUA (portuguese, actually)

there it is!
have tons of fun

(this is just a first silly post, 2b edited by someone wiser...)