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13 junho 2011

Amanhecer

(Devaneios de uma mulher solitária)

O sol nasceu.
Vi-o espreitar pela janela do meu quarto.
Foi-se libertando aos poucos das brumas da noite.
Lentamente. Em farrapos cinzentos que sobem em espiral.

Tudo começa a tomar forma.
 As árvores.
As casas.
As sombras
E o campo de milho suspira baixinho.

De repente.  Num gesto de ternura.
Tudo brilha laranja na minha alma.
Sofrida.

Nunca me senti tão só.
Tão vazia.
Tão perdida.
Tão cansada.
Nunca um amanhecer foi tão dorido.

E no silêncio do meu quarto
(enquanto um coro de pássaros me dá os bons dias).
Penso em ti.
Na força que emanas.  
Nas palavras que me sussurras ao telefone.
Nos momentos em que estivemos juntos.
Quando éramos descontraídos.
Quando os dias eram brancos e os sonhos azuis.

Lembras-te?
De mãos dadas. Os dois.
Entrelaçados em ilusões
Em promessas.
Sussurradas na calada na noite  
Em quimeras de prazer
Que se desvaneceram esfarrapadas
Como a neblina da aurora.

Estremeço.
Será que o sol ainda brilha lá fora?

Afasto a cortina.
E espreito a manhã.  
O mundo inteiro grita em tons de verde e ouro.
Numa orgia de beleza e cor.
Que me seduz num gesto gracioso
Mas a minha alma está demasiado enfadada.
E temo em participar na festa 
Que o sol me convida.

Fecho os olhos. 
Recordo outros amanheceres.
Quando acordava enlaçada a ti.
Ou a outro alguém.
Apaixonada.
Embriagada.
Pensando que ia ser sempre assim.
Acordando devagarinho nos braços do Amor.

Ou então 
Quando dava os bons dias no topo do mundo.  
Quando o sol me engrandecia 
E pensava que o mundo era meu.
Senhora do meu do destino.
Rainha dos meus desejos.
Outros tempos.
Outras vidas.

Não quero pensar mais.

Abro os olhos.
O sol inunda o meu quarto.
Convida-me a sair.
Mas sinto-me esgotada.
Deixo-me embalar pelos sons.
O vento.
O milho.
O sino.
O galo.
Suspiro.

Fecho mais uma vez os olhos.
Buscando forças para enfrentar mais um dia.
Sei que ainda acreditas em mim.
Vou tentar.
Prometo.

Amanhã…
Será apenas mais outro Amanhecer!

@esmeralda (Agosto 2004)

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