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21 fevereiro 2011

Sombras… nada mais!

Era o paraíso! Visto do lado do mar o panorama é maravilhoso: os rochedos em cutelo, fragas vivas, em alcantilados, cortados a pique, até às minúsculas praias, rendilhadas de enseadas. (…) Por toda a parte arbustos, nascidos no vento, fazem-se árvores, aproveitando o orvalho e a geada que ficou da noite. Esconderam-se e erraram nas suas sombras, como noutros tempos os ermitãs e pensadores, homens acossados e animais feridos. Entre as pedras cobertas por musgos e habitando as celas estreitas do Conventinho da Arrábida, santuário alcandorado no meio da encosta virada a sul, (…). Mas, nas noites de temporal, com o vento inclemente e duro, com a chuva impiedosa a entrar pelas árvores, pelos musgos e encharcando a terra, os medos acoitam-se nas fragas. São as noites dos lobos, dos carneiros chacinados e dos foragidos. Em nenhum lugar a noite é mais noite e o negrume mais negro. Quando a madrugada chega e se não há nevoeiro, o sol rompe as trevas e com os seus raios rasantes vai amolecendo a desgraça. Por fim, o mar fica tranquilo.

João Sena, autor do livro Sombras… nada mais!


vi este excerto no facebook (casa das letras, acho), como apresentação do livro mencionado. guardei porque me parece um exemplo excelente de: descroção, atmosfera, "unidade de efeito". por isso o partilho aqui.

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