Priberam | Comentários

Priberam » Palavra do dia

07 abril 2011

Pesadelo

Desespero, de Bruno Moreira (retirado daqui)



Regresso, vezes sem conta, ao inferno onde durante muito tempo fui. Não passei de um fugitivo.
O calor dos dias intermináveis, a vegetação a agredir-me o corpo encharcado de medo e o eco dos corpos inertes perdidos para sempre naquele labirinto, fragmentos de histórias inacabadas povoam-me e não me libertam.
Acordo, sentado na cama, com uma angústia que me toma.
Lá fora chove…
Arrepio-me de frio e, depressa, aconchego-me nos cobertores, aninho-me junto ao teu corpo quente. Concentro-me na tua respiração para apaziguar esta tormenta que me invadiu e me impede de dormir. Pouco a pouco o tumulto dissipa-se.
Ao longe troveja, percebo-o pelo clarão que estilhaça na janela grande do nosso quarto. Porém, apesar deste pesadelo, anseio, mais do que ontem, que o amanhecer tarde em chegar.
O dia rompe a linha do horizonte, denso, cinzento como as minhas olheiras. Mal dormi. Chegou o momento da partida e sou mais um que sobe as escadas do navio, rumo ao desconhecido continente africano. Até já? Até sempre? Não sei, é cedo demais para o saber.

[O meu 1.º exercício de EC - Transformar um sonho numa história]

2 comentários:

Lobo das Estepes disse...

como já tinha dito:

Muito bom, Darlene! :D adorei "o corpo encharcado de medo", o " cinzento como as minhas olheiras". PARABÉNS!

e mais textos?

açoriana disse...

Obrigada Lobo! Depois de um processo minucioso de reescrita outros textos virão, muito em breve espero eu :)