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18 dezembro 2010

O Refúgio


Quando me canso do mundo abro as portas da minha imaginação e entro no meu quarto secreto.


Deixo-me cair no velho sofá com cheiro a cabedal e enrosco-me nas almofadas coloridas espalhadas à toa. Suspiro. O meu olhar pousa nas sombras do deserto projectadas pelo pequeno candeeiro árabe.


Fecho então os olhos e sinto… os meus pés descalços enterrarem-se no tapete usado, mas ainda macio. Penso no pulsar dos mercados orientais. Os seus cheiros enrolam-se na nuvem do incenso que queima, lentamente, na arca embutida em madrepérola e recordações.


Da janela semi-aberta a brisa primaveril agita levemente as cortinas transparentes (e a minha alma). Estremeço. No gira-discos fora de moda geme o saxofone. Envolvo-me de melancolia.


Estendo a mão e toco nos livros esquecidos no chão. Tanto para dizer, para escrever e contar em pequenas histórias recortadas nos pedaços de mim. Tantas coisas penduradas no tecto e nas paredes como carimbos de passaporte das terras por onde deambulei.


O saxofone continua a gemer. Agora mais baixinho, mais perto do coração. Suspiro outra vez, e deixo-me levar, devagarinho, para a Terra de Ninguém.


Porque é ali, que me sinto em casa.

2 comentários:

FÁTIMA PAIS disse...

Gostei imenso- vê-se, ouve-se, cheira-se, toca-se!

CIGANA disse...

Obrigado Fátima :)