sentado no ramo duma árvore
que ardera, com uma maçã vermelha
na mão, esperava que chegasses.
perdoa-me, mas cheguei a duvidar
que viesses, e chorei um pranto
mudo, que desceu em catadupa
todos os degraus, que fumegavam.
formaram um rio, os miríades de lágrimas
argênteas, cujo leito era o caminho
que levava ao esquecimento de tudo
o que luzia e jaz agora no fundo do mar.
mas eis que chegaste, esvoaçando.
agitaste os cabelos, os ossos,
os tendões incandescentes.
esticaste as pernas, finas,
frias, com escamas de vento.
ergueste o bico de oiro, a noite
parou pra te ouvir cantar.
levei a maçã vermelha à boca,
que beijei, como se te trincasse.
desci, com três pulos, a escarpa
de prata ardente, pra te receber.
estendi a mão, pra te cariciar
o dorso de pétalas de acácia,
mas quando te toquei não estavas lá.
devias ser a sombra de um gato.
eram cinco para a meia noite, quando adormeci.
mal acordei, com marcas de garras gravadas
no coração, mordi fundo a maçã vermelha
que me saíra, quente, do ventre, e escrevi
este poema maligno que, a ti, dedico.
lobo das estepes @ junho de 2010
1 comentário:
O poema pode até ser maligno mas o efeito é benigno
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