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03 dezembro 2010

salamandra de fogo

quando ao crepúsculo a salamandra
de fogo sai do ninho deixa atrás de si
um rastro helicoidal de palavras
que arfam quando lidas de perto

tu a labareda de línguas
equinas e macias
que crepitam nos meus
dias internos e opacos

eu a salamandra iridescente
que te esgaravata o dorso
e sonha cardos
à sombra da lareira

enquanto ardo congemino
apocalípticas madrugadas sentado
no alto dos teus joelhos

perscruto a ravina
carmesim que me olha
imensa e me comprime
as carótidas até à asfixia

é então que morro
e renasço, másculo, luzidio
sob a campânula de veludo húmido
imarcescível que é o teu ventre

desdobro os braços, abro a boca
arfo, e num cântico profundo inundo-te
de seiva translúcida desde as raízes
dos pés às folhas dos cabelos

sou o fruto helicoidal do teu fogo
brando, endógeno, que queima
quando tocado por dentro


Lobo das Estepes @ 2009

2 comentários:

FÁTIMA PAIS disse...

Já li não sei quantas vezes, só sei dizer que acho maravilhoso!

Lobo das Estepes disse...

obrigado, Fátima