Priberam | Comentários

Priberam » Palavra do dia

29 janeiro 2011

Moro na possibilidade







































Moro na possibilidade


Moro na possibilidade
Casa mais bela que a prosa,
Com muito mais janelas
E bem melhor, com portas
De aposentos inacessíveis
Como são, para o olhar, os cedros,
E tendo por forro perene
Os telhados do céu
Visitantes, só os melhores;
Por ocupação, só isto:
Abrir amplamente minhas mãos estreitas
Para agarrar o paraíso.

Emily Dickinson

28 janeiro 2011

Pedro Corga- Moda das capas pretas

http://www.youtube.com/watch?v=ql3Scwq0ZP8
Como era lindo com seu ar todo lampeiro
´té lhe chamavam o menino das pastas pretas
Por Aveiro caminhava o dia inteiro
Apregoava pouca treta e muitas letras.

E os colegas dos EC que passavam
Ficavam tristes a pensar nos seus papéis
Quando ele olhava com vergonha disfarçavam
E pouco a pouco desembolsaram uns mil reis

Passaram dias e os meninos de Aveiro
Usam capas de feitios mas bem pretas
Todos gostavam do seu novo portefólio
E assim nasceu a moda das capas pretas

Do Pedro Corga hoje ninguém tem ideia
Deixou saudades, foi-se embora prá escolinha
Está Aveiro carregada de mil capas
Mas capas pretas ninguém tem como ele tinha!

27 janeiro 2011

À procura de inspiração para o conto infantil

Know you what it is to be a child ?
It is to be so little that
the elves can reach to whisper in your ear;
It is to turn pumpkins into coaches and
mice into horses, deer into dearling and
nothing into everything, for each child
has a fairy godmother in its soul.

The Dublin Review  July 1908     
 by Francis Thompson

24 janeiro 2011

Espontâneos

Falava-se de escrita e literatura. Esmelina Maria, muito viajada e douta, atira para para a mesa uma pérola de sabedoria (para regozijo de todos os porquinhos presentes):

O que eu mais gosto da língua é podermos pegar na língua e fazermos com ela o que quisermos.

Ao que a nossa Kinky Pinky, sempre muito atenta e sagaz, replica:

Esmelina, gosto das tuas madeixas.

EmE, camarada, como te compreendo... e respondendo também ao Meste M., eu, no domínio do oral, sou bom... mas não é com as palavras. Já agora, EmE, nunca reparei que tivesses madeixas na dita cuja (língua...).

arroxiaoxiao

22 janeiro 2011

Versão actual reduzida do Aviso de Polónio


Nunca dês a tua língua com pensamentos
não entregues a tua voz
antes dos ouvidos
nunca fales depois de pensar
be thou familiar, but by no means vulgar
senão suspeitam que és
intelectual.

João Tomaz Parreira

21 janeiro 2011

Estas foram registadas ao vivo

Um pai é uma pessoa que usa óculos e trabalha muito




Mãe, quem foi o senhor que construiu o mar?
Foi Deus ou então a Natureza.
Também foi uma mulher?
Pode ter sido.
Há gente que trabalha tanto! E tu queixas-te?

Dicionário de Humor Infantil...as maravilhas que saem da boca das crianças

 
"Pedro Bloch foi médico, escritor, jornalista, compositor, poeta, dramaturgo e autor de livros infanto-juvenis. Naturalizou-se brazileiro.


Aqui ficam mais alguns exemplos para além dos que a Fátima já colocou...

Abolição: Uma coisa assinada pela escrava Isaura.

Abstrato: Sim, eu sei o que é abstrato. Esta sopa, por exemplo, leva abstrato de tomate.

Adulto: É uma pessoa que sabe de tudo, mas quando não sabe diz logo: "veja na enciclopédia".

Bebê: É uma coisa que ainda tem a cabeça verde. Não funciona como a gente.

Bobo: É uma pessoa cheia de coisas vazias.

Bússola: É uma coisa que toda criança deveria ter. - É que eu me perdo muito.

Cinema: É um lugar onde a gente come pipoca.

Dia: Hoje é amanhã de ontem. ( o meu preferido:)))))))))))

Estudioso: Ser estudioso é pensar pouco e decorar muito.

Futuro: É tudo o que vem depois, e quando chega já era.

Gémeas: Eu vi duas meninas de cara repetida.

Hora: A melhor hora da minha escola é a hora da saída.

Ilha: É um morro que caiu dentro do mar.

Juízo: A fazer tudo o que mamãe acha que tá certo, mesmo quando está errado.

Leque: É um espanador de ventinho.

Mãe: Trocar de mãe? Nem com juros e correção monetária.

Noite: É o dia com luz apagada.

Ovo: Dizem que Colombo botou um ovo em pé. Eu não boto nem sentado.

Paciência: É uma coisa que a mamãe perde sempre.

Quando Puder: É muito tarde.

Robô: É um monte de peças e computadores que pensam que viraram gente.

Sol: Eu não errei na prova. Só disse que o Sol nasce no nascente e dorme no dormente.

Tamanduá: É um bicho todo desarrumado. Até formiga ele come.

Ultrassonografia: È parente da Geografia? É?

Vocação: É a voz do papai.

W: São dois vês que nasceram gémeos.

X: O menino vê a placa anunciando Raios-X e diz: "Mamãe, olha o nome do médico da vovó.

Y: É uma letra parecida com um estinlingue, que é entrometida.

Zebra: Um burro que nasceu com listras, coitado.

20 janeiro 2011

Pedro Bloch-Definições infantis- Cada uma dá uma história

Garoto, ao ver irmãs gêmeas na rua:
- Mãe, eu vi duas meninas de cara repetida!

- A cor do céu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem diz que o céu é azul, nem desconfia que, de noite, ele pode ser preto e, quando vai anoitecendo, pode até ser rosa ou vermelho. Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu.

- Eu sou optimista, sim. Nunca penso nos oito golos que deixei entrar, mas nos cinco que eu não deixei.



Definições:


- Paciência é uma coisa que mamãe perde sempre.

- Relâmpago é um barulho rabiscando o céu.

- Palhaço é um homem todo pintado de piadas.

- Sono é saudade de dormir.

- Arco-íris é uma ponte de vento.

- Deserto é uma floresta sem árvores.

- Felicidade é uma palavra que tem música.

- Rede é uma porção de buracos amarrados com barbante.

- Vento é ar com muita pressa.


- Cobra é um bicho que só tem rabo.

- Helicóptero é um carro com ventilador em cima.

- Esperança é um pedaço da gente que sabe que vai dar certo.

- Alegria é um palhacinho no coração da gente.

- Avestruz é a girafa dos passarinhos.

- Calcanhar é o queixo do pé.

- Chope é o refrigerante de adulto
(Fonte: "Dicionário de Humor Infantil", coletânea de definições espontâneas e achados poéticos de crianças entre 3 e 11 anos de idade, compilada por Pedro Bloch )

And by the way, everything in life is writable about if you have the outgoing guts to do it, and the imagination to improvise.  The worst enemy to creativity is self-doubt.  ~Sylvia Plath

mulheres

a todas as colegas da turma

pedro, depois arranjo um para ti (ou nós)


todas as tardes me assomo à janela
e oiço o balançar do vento nos pinhais.

há muito se silenciaram os sussuros das mulheres
quando deixavam o vale, rumando ao colo dos donos.

lembro-me quando descia às lezírias
para espiá-las: ruminando ao sol,
aguardando a cobrição do vento...

chegava-me a elas, na calma do poente.

deslizava-lhes a mão pelo dorso manso,
sentia-lhes o calo da vara, as ígneas marcas de posse.

ajoelhava-me junto aos ventres macios,
escutava o cadenciado pulsar das memórias.

cheirava-lhes o sexo quente e luzidio,
sorvia-lhes do úbere a água cristalina.

deitava-me com elas na terra quente
embalado pela lenta canção do estio.

essas mulheres, a fiar-me na palavra dos ciganos,
consta que foram todas mortas e vendidas.

disse-me um, muito velho, muito magro:

não se deve matar uma mulher espezinhando-a,
porque ela se multiplica e solta depois
muitas outras mulheres, sujas, pelo sexo.


terminou, depois, muito sério:

há-de, a mulher, ser morta com um pontapé
fulminante, no coração.


lobo das estepes @ julho de 2010


banda sonora » "Dark Night Of The Soul"
by The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble

19 janeiro 2011

Jantar de sexta feira!

Olá a todos,

Vou publicar este post e enviar também por e-mail, para os mais distraídos...

Liguei para a Pizzarte, mas como têm uma mesa já marcada para 50 pessoas para as 20h30, temos mesmo de ir mais cedo...o ideal seria estarmos todos lá às sete e meia, porque a essa hora há pouca gente...por isso peço-vos que vão mais cedo...eu irei para lá a essa hora para reservar na hora a nossa mesa...e assim não haverá problemas...

Até sexta e por favor quem ler este post/mail que confirme que vai às 19h30

Beijinhos e bom trabalho
Ana

Pra que não digam que só eu é que escrevo asneiras

Ora porra!


Ora porra!
Então a imprensa portuguesa é
que é a imprensa portuguesa?
Então é esta merda que temos
que beber com os olhos?
Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.


Álvaro de Campos

Metade - Oswaldo Montenegro

De Oswaldo Montenegro-ouve-se na SICNotícias

"E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio, Que a morte de tudo o que acredito, não me tape os ouvidos e a boca: porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio."

Que a música que ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste.
 
Que a mulher que eu amo,
seja para sempre amada, mesmo que distante:
porque metade de mim é partida,
e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo,
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta
a uma pessoa inundada de sentimento:
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que corre por dentro
seja um dia recompensada:
porque metade de mim é o que penso,
e a outra é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto, o doce sorriso
que me lembro ter dado na infância:
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei.

Não seja preciso mais que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito,
e que o teu silêncio me fale cada vez mais:
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma reposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar:
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada,
porque METADE DE MIM É AMOR, E A OUTRA METADE, TAMBÉM.

Youtube » Metade - Oswaldo Montenegro

Magister dixit and I agree

“As authors we like our protagonists. We are tempted to protect them from trouble. That temptation must be resisted”.

Grafias

“ Está aí alguém? Posso falar? Posso?”
Eu só queria dizer uma coisa. Eu não gosto de escrever “portefólio”, prefiro portfolio, mas vim corrida do Dicionário da Academia das Ciências. Fui lá com muito jeitinho, sem ninguém ver,  procurar a entrada e lá estava ele: portfolio. Ah, ah! Então posso escrever como gosto!! Qual quê? Que desconsolo! s.m. (Ingl.) V. portefólio. Antes de vires para o Ingl. já estavas no latim, sabes? Subi pelo simpático porte-pago e lá o encontrei, orgulhoso, de transcrição fonética com i traçado, cheio de entradas, de explicações, a dizer que veio do ingl., 1.2.3.4. . Bem feita! O portentoso e o portento estão acima, não consegues vê-los , pois não? Mas a minha lupa viu.
Sabes que tens um dos teus no primeiro volume, o palermita do dossiê? Fez-me a mesma coisa. Fui lá parar a pontapé de (Fr.).V. dossiê! Que (a)portuguesices! Sim, sim, mas no mesmo volume até está um (De origem obscura)! Sabes quem é? O bué!

Portfolio, portfolio, dossier, dossier!
Portfolio, portfolio, dossier, dossier!

Ca fixe!
Bué da fixe!

18 janeiro 2011

Peter and the Wolf Part 1 - Leonard Bernstein

Promessa e Oração

Amor,


na primeira vez em que nos deitarmos juntos, vou aninhar-me recém-nascido entre as tuas Pernas, a cabeça pousada no teu Ventre morno. Embalado pelo teu pulsar vindo do fundo, vou amadurecer a Loucura e a Ternura, sem as quais não se pode Voar. O Cheiro do teu Sexo, ali tão perto e tão quente, vai entrar-me a jorros pelos Poros e alimentar-me os Músculos famintos de vigor.


Nutrido, vou levantar-me e levar-te nos Braços até junto do Pórtico de Fogo. Entraremos de Mãos dadas no Jardim dos Prazeres. Ganharemos Asas e sobrevoaremos os pomares férteis onde as Árvores dançam e perfumam de âmbar o Ar acabado de lavar por uma Chuva mansa. Poisaremos num prado onde cada Flor é a prova viva e delicada de que nada é impossível.


Faunos e Anjos olhar-nos-ão sem inveja nem crítica quando nos deitarmos, esplêndidos e luzidios, no manto de Pétalas brancas que o Tempo, entretanto parado, estendera para nos receber. Pôr-me-ei sobre ti, possante e meigo. Receber-me-ás, fecunda, com o Dorso generoso afagado pelo Vento.


Inauguraremos, assim, a época da Cobrição.


Lobo das Estepes @ Janeiro de 2011

17 janeiro 2011

The Cat Piano



Once upon a time
there was a cat
that live in a Cat City...
with a symphony of meaows..
but not one could beat The CAT Piano ...   MEAOW!!

(E assim se escrevem os contos policiais)

Vantagens de um libreto

http://www.flixxy.com/olsen-gang-elverhoj-overture-comedy-film.htm.

Sugestões para entrega de Portefólios
















Fontes: Casa das Letras e máquina fotográfica da Fátima

A Menina que Tinha Medo de Voar

O voo atrasou outra vez. Os passageiros impacientes aglomeravam-se juntos ao balcão da companhia aérea. Já era a segunda vez naquele dia que os voos para Londres eram adiados. Condições climatéricas - diziam. Fortes nevões. Gelos nas pistas. Impossibilidade de aterrar. Enfim! Resignada, Marta soltou um suspiro e procurou um lugar para passar as próximas horas.

Eram 3 da manhã e tudo o que ela queria era estender as pernas cansadas em qualquer lugar. Encontrou uma cadeira vazia. Arrumou as malas junto aos pés. Tirou o portátil. Abriu a garrafa de água e preparou-se para escrever. Mas não conseguia. Gargalhadas infantis perturbavam a sua concentração.

Levantou os olhos do ecrã. Sentada na cadeira da frente uma menina negra não parava de tagarelar. E ria! Ria alto. Com gargalhadas cristalinas que feriam os ouvidos. Não devia ter mais de oito anos. Vestia uns jeans justos enfiados numas botas Hello Kitty e uma camisola cor-de-rosa. Tinha dois totós escuros e arrebitados, coloridos por dois ganchos, igualmente Hello Kitty e cor-de-rosa. Os olhos castanhos, grandes, brilhavam visivelmente excitados. Nas faces morenas.

Marta fechou o portátil e olhou para a menina que… ora ria. Ora falava. Ora escorregava do assento. Ora fazia uma espécie de dança na ponta das botinhas Hello Kitty. Que irritante! Pensou Marta aborrecida. Queria escrever e  a  menina dos totós Hello Kity não deixava. E porque é que será que a mãe não lhe chamava à atenção? Resmungou Marta. Sim, porque devia ter mãe, não? E olhou com um ar enfadado para a mulher de calças pretas e blusa colorida sentada no outro lado. Perto da menina. Mas seu olhar foi ignorado. A mulher lia pacatamente um livro. Indiferente aos gritinhos excitados da menina.

Cansada. Irritada. Marta guardou o portátil e cruzou as pernas num gesto impaciente. Não era hoje que ia escrever. Não com a Hello Kitty aos saltos e pulos como um macaquinho das pilhas Eveready.  Aborrecida, levantou-se e foi deitar fora a garrafa de água, vazia. Tropeçou com uma hospedeira, apressada. Realmente hoje não é mesmo o meu dia. Pensou Marta com um cerrar de dentes.

Desculpe. Escusou-se a rapariga de farda.
Não faz mal. Respondeu Marta, tentando ser gentil. Lançou um olhar furioso ao ecrã do aeroporto. Faltava ainda 2 horas para o avião partir. Se é que iria partir. Suspirou outra vez. Comprou outra garrafa de água e voltou ao assento.

Sentou-se, e puxou de um livro. Espero que a miúda me deixe ao menos ler. Pensou Marta. A miúda? Nem um som. Nem uma gargalhada. Marta sobressaltou-se estranhando o silêncio. Será que se calou finalmente?

Olhou á volta. E vê a hospedeira apressada sentada ao lado da Hello Kitty que… já não saltava, nem tagarelava, nem dançava, nem gargalhava. Limitava-se a estar sentada, muito direita, muito quietinha, ao lado da rapariga fardada que lhe segurava a mão.

O altifalante soou. Chamando os passageiros para embarcarem em várias línguas. A hospedeira levantou-se. Segredou algo á menina que se levantou também. Hirta. Com o olhar cheio de medo, deixou-se levar pela mão estranha. Rumo ao desconhecido, naquela sua primeira viagem.

Marta viu-as desaparecerem no interior do terminal. Olhou para o relógio. Eram 5 da manhã. Ainda faltava uma hora. Tirou outra vez o portátil para fora. E preparou-se, mais uma vez, para escrever.

@esmeralda - exercicio de EC
Janeiro 2011

Jantar do Fim do Curso

Jantar do Fim do Curso: dia 21 de Janeiro (sexta-feira) às 20h00 na Pizzaria do Mr. Pizza, Avenida Santa Joana 25, Tlf: 234 338 471. Pode-se levar convidados. Por favor confirmem a vossa comparência com a Marcelle. Obrigado!

YOU HAVE BEEN WARNED


"Como ousar encarar as mulheres que escrevem, subversivas? Mulheres de intensidade e inteligência? Profundas, abissais. ...Mulheres que escrevem com o ventre nas estrelas, severas ou sorridentes, travessas, sensuais. ...Mulheres que escrevem são um perigo! ...Mulheres que escrevem fazem seu tempo, marcam a história, revelam horizontes, abrem caminhos, revelam-se o caminho. Mulheres que escrevem são senhoras de muitos mistérios! Conhecedoras de noites e bichos recônditos!"

Marcelino Rodriguez


E acrescento: toda a fêmea é bicho vil, cheio de enleios e encantos mil.

Ai daquele que, incauto ( julgando-se Dono e Senhor daquele território das Trevas ) caia no seu ardil...

Sofrerá dores, desencantos ( agonias piores do que doce cordeiro em fundo covil ).

Terá visões dantescas, desejos de morte, qual peregrino cego pela mais ingénua demência febril!

Tenho dito.

15 janeiro 2011

Blu Mediterraneo


Nem Cila, alucinando
com uivos os ouvidos, nem Caríbdis
amedrotam
Outras tentações no rio Oceano
flutuam no azul
os cânticos que aveludam
o engano das sereias, os corpos
como mastros sob o sol
os jardins nos olhos das sereias
que começam a arder
de imaginação e sal.

15/1/2011
João Tomaz Parreira

13 janeiro 2011

A francesa...



Sentou-se delicadamente, cruzando as pernas e pousando os sacos num amontoado brilhante e multicolor. Deviam estar cheiinhos de presentes para a família, o animal de estimação, as amigas mais próximas e os arredores do seu roupeiro. Tinha um ar todo fino e requintado, mas satisfeito, ou não estivesse de barriguinha cheia das compras nas lojas duty free.
Roía as unhas como um se fosse um esquilo a descascar uma bolota e a ponta branca era fruto da manicure francesa, já gasta. Observava os passageiros do aeroporto, como se estivesse no último andar da Torre Eiffel. O seu olhar era azul metálico, carregado de rímel azul-escuro, e o risco, estilo Cleópatra, estava bem delineado. O cabelo era ondulado, carregadinho de tinta loira, mas o tom até nem era dos mais berrantes. No entanto, não deixava de ser piroso. As botas de cano alto, cheias de aplicações e enfeites em feltro, pareciam uma árvore de Natal enfeitada por uma criança. As mulheres olhavam para ela com inveja e os homens, lançavam-lhe um olhar felino, com segundas e terceiras intenções. A menina negra parecia admirá-la e o Mr. Mistério, por detrás dos seus óculos escuros, magicava com toda a certeza uma forma de a abordar. Eu estava a ficar enjoada com o cheiro do perfume da senhora. Em breve, ia com certeza, transformar-me em bacalhau da Noruega... Estava há três horas à espera do voo para Londres, onde ia dar mais uma palestra acerca de motivação e coaching. Estava delirante, pois era uma oportunidade fantástica de expandir a minha empresa. Mal pensei no meu encontro com o meu querido detective Poirot, toca o telemóvel da francesa e deita por terra as minhas pertenções de leituras christianas. A senhora toda fina, vinha de França de certeza, ou não tivesse ela, uma t-shirt preta, bem justinha, com o típico estampado de letras brilhantes e o coração no meio, que diziam: "I love Paris." Foi o fim do meu sossego livresco, pois a francesa não se calou mais ao telemóvel, durante uma hora. “Que teria aquela árvore de Natal francesa para contar, durante uma hora...e ainda por cima em Francês, a língua que me arranha os ouvidos.” Mas o pior de tudo foi o desfile de moda que ela fez durante essa hora, zumbindo de um lado para o outro, como se fosse uma abelha, mesmo à minha frente. O Mr. Mistério estava deliciado, e todos os os machos men paravam para a admirar nas suas jeans Levi´s, super justinhas. A menina negra começou a imitá-la, mas  a mãe depressa a  proibiu. Resolveu ficar amuada a observá-la.
"Que irritante era tudo aquilo!" – pensei – " e o perfume era tão enjoativo...ai, ai...eu já me estava a passar!"
Felizmente anunciaram que o voo para Londres ia partir daí a dez minutos. Fiquei aliviada…até me aperceber, quando me sentei no avião, que o raio da francesa estava sentada mesmo ao meu lado. "Oh, não, vou morrer sufocada com esta snobe!"- pensei eu...mas de repente, ela perguntou-me o meu nome...


Se calhar vou continuar esta ideia...daqui a dias...vamos ver...depende da disposição..gostei desta ideia dos aeroportos...mas acho que o meu narrador está na 1.ª pessoa...apesar de falar da personagem na 3.ª...fiquei um pouco confusa, mas era esta a perspectiva que queria dar...não se se era bem isto que se pedia...


Exercício » Narrador


"Imagine que se encontra na sala de espera de um aeroporto internacional, de madrugada, aguardando a chegada do seu voo para Inglaterra, e rodeado de outros passageiros."

Narrador: primeira pessoa

Personagem: "Um homem alto e musculado, cabelo cortado à escovinha, óculos escuros, algumas cicatrizes no rosto, sem um dedo numa mão, fato azul-escuro, olhando constantemente em redor, e apenas com uma pasta negra como bagagem."



Aquela pirralha negra está a irritar-me cada vez mais, aos pulos e aos guinchos como um caniche. Se não fosse o estarmos num aeroporto europeu, com tantos seguranças, tirava o Colt da pasta e metia-lhe um balásio mesmo no meio dos olhos! Oh, se não metia! Como seria lindo ver o seu sangue de negra a formar uma poça cada vez maior no chão de mármore, e o seu corpinho tinhoso e escuro a cobrir-se de formigas. Pena não estarmos em África!...

A falta que sinto daquelas missões, onde tudo era possível e quase ninguém se importava; e os poucos que chegaram a importar-se... tau!, um balásio, e é vê-los a encherem-se de moscas. Aquilo lá na terra dos pretos é o novo Far West, é lá que me sinto bem: nos capins, nos bares de putedo cobertos de pó — sim, os bares cobertos daquela estúpida poeirada castanha que se nos cola à pele, misturada com o suor, até parecemos uns raios duns pretos; e as cabritas, com a cara coberta de pó branco, escanzeladas, mas com bons cus e umas mamas arrebitadas. Aquilo lá é que é, foda-se!, não é aqui na Europa, metido num fato emprestado, a fazer recados a uma puta metida a patroa.

Raios a partam! Aquela ruiva de figura sinuosa e mais cicatrizes no focinho do que eu bem que me tramou. É esperta, a puta! Lá nisso não posso deixar de a gabar... Esta ida a Inglaterra para lhe comprar "a cena" ou lá que merda é que este dinheiro vai pagar, está a sair-me pior do que uma ida ao inferno. Aposto que tem aqui algum capanga para me vigiar. Se o descubro... caralho!, meto-lhe um balásio no meio dos olhos! E raios me partam se quando voltar a África não trato da saúde à puta da ruiva! Oh, se não trato... E depois, é ver-me a comer camarões do tamanho de panados e a beber cerveja até rebentar. Isso é que vai ser!

Diabos levem a preta! Voltas a olhar prà'qui nem sei o que te faço...

Preciso de relaxar; tu controla-te, pá. Aquela jovenzinha de collants vermelhos e t-shirt da Hello Kitty é que me aliviava bem. Vem ao papá, vem! Miau! Levava-a ao WC e fazia-a guinchar como um caniche; oh, se fazia! Putinha boa, destas não há em África... Muito gosta ela de ter as unhacas na boca, eu dava-lhe com que se entreter; oh, se dava! E ai dela que me mordesse... Metia-lhe um balásio! Mesmo no meio dos olhos! Metia, metia!...

Tau! Já está.
E nem doeu nada, pois não?...

12 janeiro 2011

Achtung, bitte!

No se lo pierda, no se lo pierda!

Deve gostar de aeroportos, de ver tudo e de tudo.Ou então habituou-se.Não pára de olhar para as pessoas por detrás dos óculos de sol. Qué tío! Por certo é guarda-costas de alguma celebridade. Esteve em algum cenário de guerra e agora descansa, bem pago! Não tem ar de quem se esfalfa muito. Não se lhe vêem os olhos, mas parece estar bem acordado, ao contrário da maioria. Não mete medo, mas o ar dele até pode intimidar algumas pessoas.
A miúda dos sacos não está a gostar do que vê. A pequenita dá uma corrida até ele e aponta para a mão.
" Só tens quatro dedos, eu tenho cinco!"
" Yeap!"
"Porquê?"
" You wait and see, kiddo!"
" Mãeeeee, o senhor chamou-me querida!", diz a Trancinhas, aos saltos.


Um homem agarra na criança. Outro grita:
"Mãos ao ar! Está preso!"

O incêndio na escola do meu coração: memórias soltas da minha infância

Lembro-me de adorar ir à escola e de transformar o início de cada ano novo escolar numa azáfama mágica, como a dos duendes em vésperas da entrega dos presentes de Natal. A ansiedade de comprar os livros novos e o desejo insaciável de ter uma mochila, um estojo, uma borracha ou uma simples caneta nova, para levar comigo no primeiro dia de aulas, faziam o meu coração mudar de cor, tal como acontecia com as folhas das árvores, naquela mudança de estação.
Recordo-me de passar muito tempo na escola, onde a minha mãe trabalhava – a ler, a desenhar, a colorir, a recortar, a colar – e sobretudo a ouvir as conversas daquelas pessoas, que já não tinham a minha idade. Pareciam  sempre  tão apressadas e nervosas. Apesar de tudo isto, não me lembro do meu primeiro dia de aulas e confesso que as minhas memórias de infância são como um dia de nevoeiro no país do chá e das bolas de neve.  A escola sempre foi a minha segunda casa e já não me lembro do primeiro dia que lá entrei, pois devia ser um bebé de colo.
A minha mãe conta que em no ano em que entrei para o pré-escolar, fiz uma birra enorme e fartei-me de chorar, porque não queria lá ficar. Já não me lembro disso, mas recordo-me bem das cenouras que a minha amiga dinamarquesa comia e da caixinha de areia onde brincávamos horas infinitas. Ahh…também me lembro bem de adorar brincar!!! O meu pai repete vezes sem conta que quando me chamava para regressar a casa, depois de um longo dia de brincadeira, eu dizia que não estava cansada, porque não tinha brincado nada. Na verdade, lembro-me de ser criança, mas já não me lembro da criança que fui. As fotografias são muitas...e isso ajuda a enriquecer as recordações. Tenho saudades desse tempo, que já não volta, mas sinto-me feliz porque aconteceu!
Recordo bem o dia fatídico em que cheguei à minha antiga escola primária – a escola do meu coração –  e vi as labaredas de fogo a consumirem o edifício como se fosse uma caixa de papel. Essas malditas labaredas perseguiam-me como se fogem dragões saídos de um filme de ficção científica. Eu estava triste e cansada de correr de um lado para o outro para as tentar afastar da escola. Os meus colegas de turma  gritavam muito e as lágrimas escorriam-lhes pelo rosto  como cascatas limpídas e tranparentes. Os bombeiros lutavam contra aqueles fantasmas vermelhos, com os jactos de água das suas mangueiras compridas e velozes, que me faziam lembrar serpentes encantadas.  De pijama e roupão,  os pais das crianças agradeciam o facto do incêndio ter sido de noite e de não estar lá ninguém dentro. Quando lá entrei, horas mais tarde, depois dos bombeiros terem apagado o fogo, estava tudo em cinzas. O cenário era de destruição. Estava tudo negro e desconfigurado e eu já não reconhecia a minha sala, nem a minha cadeira, nem os meus cadernos novos, cheios de belas composições escritas à mão.  Comecei a ouvir a sirene dos bombeiros já longe, mas quando dei conta, acordei e reparei que era o despertador, que me libertava deste pesadelo recorrente.


Resolvi escrever acerca deste meu pesadelo de criança, pois pareceu-me mais interessante e do que aquele que  escrevi na aula, com o qual não fiquei satisfeita!

Feliz ano novo de 2011 para todos!!!!!!!!!!!

11 janeiro 2011

Now and Then


NOW AND THEN
by Billy Collins

This poet of the Tsong dynasty is so miserable.
The wind sighs,
a single swan passes over head
and he is alone on the water in his skiff.
If only he appreciated life in eleventh century China
as much as I do.
No loud cartoons on television,
no music from the ice cream truck.
Just the calls of many birds
and the steady flow of the water clock.

I N F E R N O

ou...

O que sentes quando a noite cai e o sono não vem?



Neste espaço exíguo, movo-me com a dificuldade de um rato exilado no mais recôndito e imundo emaranhado de túneis. Estes canais — com cheiro a putrefacção, manchados de vómito e cravejados de insectos — não são subterrâneos, escavados por animais que vivem à noite. São passadiços metálicos, cujas paredes são contentores construídos pelo homem com a função única de albergarem o que a sociedade quer o mais longe possível dos seus lares e, se possível, esquecer. O calor intenso, que torna o cheiro insuportável, penetra a jorros pelas fendas estreitas e viscosas que me permitem ter uma parca noção do espaço circundante: lixo — toneladas de desperdício humano.

Eis o meu cárcere: um gigantesco labirinto de contentores maciços que escondem a porcaria que ninguém quer. Condenado a ruminar em solidão os meus pensamentos abjectos, sinto-me, por vezes, tentado a empurrar um contentor e evadir-me. Sei que teria forças para movê-lo, mas... terei a coragem — ou mesmo a vontade — para regressar à torrente de asséptica humanidade?

Este lugar, por muito repugnante que seja, conhece-me, aceita-me. Nas suas tortuosas entranhas, encontro sempre onde me esconder, quando ouço algum dos camiões aproximar-se para se livrar da carga sórdida; há múltiplos recantos ao abrigo do sol escaldante do meio-dia, ou do vento gélido que sopra nas noites invernosas. Sei onde passa um rego de água escura onde, às vezes, para além de algum bicho boiando na superfície gordurosa, encontro pequenas bolas de sabão e espuma perfumada que me fazem lembrar as minhas brincadeiras de infância, nos regatos ladeados de ervas, funcho e margaridas, junto do grande tanque de pedra, da aldeia, onde a minha mãe lavava a roupa com sabão Clarim.

Sei, em cada altura do ano, onde encontrar todo o tipo de répteis rechonchudos e as mais variadas aglomerações de insectos: dos crocantes ao agridoces, dos completamente negros aos transparentes e delicados como filigrana. Conheço de cor os locais com maior probabilidade de encontrar uma ave acabada de tombar — por doença, idade, ou tédio. Não raramente, do cimo dos três metros de altura dos contentores, caem objectos com algum interesse lúdico, ou perfumados com algum cheiro sintético que eu já havia esquecido.

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A CASA: ou o convite ao interior de um pesadelo


Quero acordar e não consigo. Entro em pânico e olho à minha volta. Desnorteadamente.
Ao longe, vejo uma CASA. Caminho na sua direcção. Ou antes, tento caminhar, porque as pernas pesam como chumbo. Mas continuo a andar. Teimosamente. Penosamente.

A CASA está agora mais perto. Assustadoramente perto. E é enorme. Parece uma mansão vitoriana saída de um filme qualquer do Alfred Hitchcock. As paredes negras e frias escondem segredos e as janelas, arqueadas e arregaladas como olhos gigantes causam-me arrepios. As árvores nuas sussurram…ou será que suspiram? Quero fugir. Quero sair dali. Mas a CASA chama-me e os seus portões de ferro forjado abrem-se como um convite.

Hesito. Olho para trás e vejo apenas a escuridão. Apenas A CASA com os seus portões escancarados, à espera de mim. Lentamente, com o medo a escorregar pelas pernas, entro na CASA que me engole.

Vejo-me agora num salão de mármore onde crepita uma lareira. Sinto o calor derreter e o medo invadir o meu coração gelado. Sento-me no cadeirão de veludo branco que surgiu do nada, como um gesto de alívio. Já não quero acordar. Quero ficar ali para sempre. Aninhada no cadeirão. Vendo as chamas a estalarem e a deixar o calor envolver-me como um abraço terno.


Oiço um som. Uma gargalhada que emerge como uma bolha de ar. Viro a cabeça num gesto brusco em direcção ao som. Sigo a gargalhada com os olhos e encontro, enroscada num canto uma criança. Sem sexo nem idade, apenas uma criança que ri. Sorrio. Levanto-me e caminho para ela estendendo os braços. Mas ela já não está ali. Corre agora por um corredor sem fim, cheio de portas. E eu corro atrás dela. Chamo por ela. Pergunto-lhe: onde vais? Mas oiço apenas as suas gargalhadas como resposta e continuo a correr.


Corro agora sem parar e reparo com horror nas cobras que infestam o caminho. Rastejando e enrolando-se nos meus pés. Tento sacudi-las com pontapés furiosos, mas elas prendem-me os pés com os seus corpos repelentes. Escorregadios. Desesperada continuo a correr.
A criança perde-se ao longe e confunde-se agora com a CASA. Desvanecem-se ambas num horizonte violeta. Tento ainda alcança-las num esforço derradeiro, mas já não vejo nada.


Tudo está agora silencioso.


Só oiço o palpitar do meu coração. E o despertador que insiste em soar teimosamente nos meus ouvidos.