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06 janeiro 2011

Princípio do princípio do fim

Só vejo as prateleira brancas, vazias. O vidro não me deixa ver mais nada. Vou sair daqui, tenho de sair. Grito. O grito não se faz ouvir. Ouço barulho. Estão a despejar livros, uns sobre os outros. Cheira a petróleo. O branco das prateleiras enche-se cores: amarelos, laranjas, vermelhos. Cheira a queimado. Começo a ver as folhas de papel transformarem-se em faúlhas e há risadas de vozes fortes, metálicas e ríspidas. Tudo negro. Sufoco. Caiu uma enciclopédia na fogueira acima de mim. Grito. O grito não se faz ouvir. Grito mais alto. Som nenhum.
O espírito do poeta visita-me:
" Menina, lembre-se do que eu lhe escrevi!"
Tremi com o barulho de mais livros lançados à fogueira.
Lembrei-me.
"Onde se queimam livros, mais tarde queimar-se-ão pessoas".
                                                                  Berlin, Platz der Oper, 10/5/1933

3 comentários:

Lobo das Estepes disse...

que imagem bonita: pessoas a arder.

as frases curtas funcionaram bem.

FÁTIMA PAIS disse...

Imagem: livros queimados.Exactamente por cima do que se vê na primeira foto, um monumento a esta "queima" de livros em Berlim, 1933. Lembro-me de ter tido este pesadelo durante várias noites depois de ter tirado a foto.

Pinky disse...

Gosto do texto..está simples e é emocionante de ler...é um verdadeiro pesadelo imaginar livros a serem queimados...horrível...