Abri os olhos para a escuridão. Não sabia onde estava. Tentei estender os braços, mas não consegui. Depressa percebi que estava encerrada num espaço pequeno e almofadado, com um cheiro estranho que impregnava as minhas narinas.
Aos poucos, comecei a lembrar-me da colisão de dois carros, do barulho ensurdecedor de sirenes, do burburinho de um hospital, do choro de uma criança e das súplicas de um homem. Lembrei-me do acidente. Lembrei-me de entrar no hospital e de ver as minhas mãos e o meu corpo ensanguentados. E depois, nada. Foi então que percebi onde estava e o que me acontecera. Estava dentro de um caixão, vários metros debaixo do solo.
Senti o sabor do pânico na boca. Rasguei o tecido que me envolvia. Esperneei e contorci o corpo na busca vã por uma saída. Arranhei a madeira que me encerrava. Gritei. Gritei até ficar rouca.
Por fim, rendi-me ao desespero e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Não podia fazer nada. Não havia salvação possível. Recordei o rosto do meu filho, os seus olhos brilhantes e o seu sorriso radiante. Nunca mais o veria.
Começava a ser difícil respirar quando as ouvi. Duas vozes acima do local onde me encontrava enterrada. Estavam a metros de distância, mas mesmo assim conseguia ouvi-las. Senti uma luz acender dentro de mim. Murmurei uma prece. Procurei pela minha voz. Estava fraca, mas ainda podia gritar. Voltei a espernear e a arranhar as paredes do caixão. Eles tinham de me ouvir. Não podia parar. Não podia desistir agora.
Aos poucos, comecei a lembrar-me da colisão de dois carros, do barulho ensurdecedor de sirenes, do burburinho de um hospital, do choro de uma criança e das súplicas de um homem. Lembrei-me do acidente. Lembrei-me de entrar no hospital e de ver as minhas mãos e o meu corpo ensanguentados. E depois, nada. Foi então que percebi onde estava e o que me acontecera. Estava dentro de um caixão, vários metros debaixo do solo.
Senti o sabor do pânico na boca. Rasguei o tecido que me envolvia. Esperneei e contorci o corpo na busca vã por uma saída. Arranhei a madeira que me encerrava. Gritei. Gritei até ficar rouca.
Por fim, rendi-me ao desespero e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Não podia fazer nada. Não havia salvação possível. Recordei o rosto do meu filho, os seus olhos brilhantes e o seu sorriso radiante. Nunca mais o veria.
Começava a ser difícil respirar quando as ouvi. Duas vozes acima do local onde me encontrava enterrada. Estavam a metros de distância, mas mesmo assim conseguia ouvi-las. Senti uma luz acender dentro de mim. Murmurei uma prece. Procurei pela minha voz. Estava fraca, mas ainda podia gritar. Voltei a espernear e a arranhar as paredes do caixão. Eles tinham de me ouvir. Não podia parar. Não podia desistir agora.
Patrícia Cálão
27/10/10
4 comentários:
Eu diria que conseguiste!
Parabéns, está de morte! Ahahah!
começas de forma excelente: Abri os olhos para a escuridão.
"impregnava as minhas narinas"
para evitares a repitição do as/as, e também o possessivo, sugiro: que me impregnava as narinas. mas se o cheiro era estranho, porque não: que me irritava as narinas?
Aos poucos, comecei a lembrar-me
gosto dos indefinidos, um hospital, uma criança, um homem.
Estava dentro de um caixão, vários metros debaixo do solo.
eu "metia" ao contrário! explico: estava debaixo do solo, dentro dum caixão. o caixão no final parece-me melhor. Evitaria o "vários metros" (diz que são sete palmos...).
Senti o sabor do pânico na boca.
boa imagem! mas... regra geral, o sabor costuma sentir-se, precisamente, na boca... tá'jaber?
Gritei. Gritei até ficar rouca.
se fosse eu, gritava com uma exclamação no fim!
lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto
pois se era um caixão monolugar, presume-se que rolaram pelo TEU rosto ;)
Não podia fazer nada. Não podia fazer nada. Não havia salvação possível
redundante, não?
(Não havia salvação possível; estava condenada... à morte, ahahah)
Recordei o rosto do meu filho
tá'jaber? rosto logo na frase seguinte? o rosto dele é pertinente, o teu não...
os seus olhos brilhantes e o seu sorriso radiante
ante... ante... ficaste imóvel como uma estante, recordando a imagem do infante...
repara: dois possessivos
sugestão: aqueles olhos luzindo, o (seu) sorriso radioso.
este parágrafo está excelente!
Começava a ser difícil respirar quando as ouvi
ouviste? quem? onde? SUSPENSE :D
eu mudava "começava a ser" para "começava a tornar-se".
acima do local onde me encontrava enterrada. Estavam a metros de distância
já sabemos que estás enterrada... não gosto desta frase ("duas vozes, uns ali em cima"?).
a metros de distância... hum... não me convence, faz-me pensar que estavam a vários metros, quando não estariam a mais de 2 (3, vá. 7 palmos quantos metros são? merda para os ingleses!)
Senti uma luz acender dentro de mim
gosto do "sentir", da manifestação física que evoca, mas não sei se gosto da frase ("uma luz acendeu-se-me no peito"..?)
Murmurei uma prece
outra boa ideia! mas...
imagina-te enterrada viva... ouves vozes... a primeira coisas que fazes é rezar? murmurando? ou gritar socorro?
Eles tinham de me ouvir
eles? mudasti?! não eram duas vozes? ... eheh
Não podia desistir agora.
muito bem! não, não desistas agora, estás no bom caminho, e tens mais e melhores coisas para escrever e partilhar connosco.
Obrigada pelo teu comentário ;)
Gostei muito mais de ler do que de ouvir.
Vale a pena lermos os conselhos do Pedro!
Parabéns!
Sim...o Pedro é o BlogTeacher cá do sítio!
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