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Priberam » Palavra do dia

24 outubro 2010

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Seis.

Enquanto me marchava lentamente pelas costas acima, consegui distinguir-lhe perfeitamente cada umas das seis patas, rígidas mas suaves. A pressão ligeira que exerciam, ao pousarem-me na pele despida, produzia um efeito relaxante juntamente com uma sensação de calor. Estas ondas mornas, mais psicológicas do que físicas, ecoavam-me pelo dorso banhando-me de saudades dos teus dedos longos de aranha. Cheguei mesmo a sentir o arrepio das tuas unhas negras... beijando-me.

Quando chegou ao meu ombro esquerdo, não resisti a tocar-lhe o corpo ovalado: absolutamente liso e simétrico; não lhe notei qualquer diferença entre as zonas anterior e posterior. Quando a cariciei com a ponta do indicador, com aquela vontade de puxar-te a mão para os lábios e beijar-ta, a criatura ronronou-me ao ouvido, exactamente como tu o fazias quando me recolhia no teu peito perfumado de cerejas vermelhas... prontas a trincar.

Curioso, mas demasiado sonolento para acender a luz do quarto, peguei na bichinha com cuidado e guardei-a na gaveta da mesinha de cabeceira.

Puxei o lençol, que me havia descaído para o fundo das costas, e rendi-me à saudade de acordar no teu aconchego... enquanto a manhã navegava rumo à minha janela.

outubro de 2010

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