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24 outubro 2010

ex.2 » contar vs mostrar


Não me apetece voltar ao hospital. Estou farta, farta! É suposto eu afinal lutar porquê? Os meus dois filhos já os criei, com sacrifício e esmero; eles próprios são hoje bons pais, como eu fui. Divorciada, devo agora manter-me atraente para quem? Para os solteirões do clube de leitura? Para agradar aos meus filhos? Receber os netos? Não!

Já fiz tudo aquilo a que uma mulher de origens modestas pode aspirar. Visitei até a Torre Eiffel; levou-me o Alberto, quando ainda éramos felizes, e beijámo-nos lá em cima — o vento a soprar-me nos cabelos e aqueles braços a apertarem-me contra ele, com desejo, apaixonado. Fiz também o curso de modelação em barro com que sempre sonhei; ainda guardo todas as peças, belas, menos o cinzeiro que lhe ofereci — cabrão! —; não cheguei a participar em nenhuma exposição, mas nunca tive muito tempo livre, nem o talento...

Agora, quero apenas olhar os gatos, da minha janela; sossegada, enquanto bebo o meu chá de jasmim; longe de tratamentos que só me causam dores e angústia, que fazem de mim mais uma preocupação, um estorvo. Continuar com esta tortura para quê? Para ganhar mais uns meses? Uns anos? Não, estou farta!

O que mais posso agora esperar, que não dores e desilusões? Não acredito num futuro onde seja feliz; estando o meu corpo deformado, incompleto.

Não; já tive a minha quota-parte de felicidade.... Até já fui a Paris, cinco dias; fiz amor apaixonadamente, todas as noites; comi croissants; passeei no meu vestido novo — ofereceu-mo ele, uma semana antes de partirmos — apreciando os pintores, ali, ao vivo, na minha frente, colorindo as avenidas...


exercício proposto por uma colega:
"mostrar que a Inês tem canco da mama"


novembro de 2010

6 comentários:

CIGANA disse...

Já está melhor. Menos triste e péssimista. Pelo menos já se mostra que ela teve a sua "quota-parte de felicidade"

Alguns reparos:

1) "eles próprios são hoje bons pai e mãe, com eu fui."

Penso que é COMO e não COM. Eu usava antes "são hoje bons pais" em vez de "pai e mãe"

2) "devo agora manter-me atraente para quem? Para os solteirões do clube de leitura? Não!"

E porque não antes assim: "devo agora manter-me para quem? Se já nenhum homem para mim olha? Ou então para os velhos solteirões do clube de leitura?". Apenas uma sugestão :)

3) menos o cinzeiro que lhe ofereci — cabrão! —;

Cabrão porquê? Porque ficou com o cinzeiro? Mas se ela lho ofereceu??

4) "nem o talento."

Mas se as peças que ela fez eram belas, porque é que não tinha talento?

5) "que não dores e desilusões?"

Não sei se o SE não ficaria melhor, em vez do QUE

6) "o meu corpo deformado, incompleto."

Muito bem :D. As mulheres que tem cancro na mama sentem precisamente isso. Deformadas e incompletas, pois costumam tirar um dos seios.

7) "comi croissãs ao pequeno almoço; passeei no meu vestido novo — ofereceu-mo ele — apreciando os pintores, ali, ao vivo, na minha frente, colorindo as avenidas..."

Gosto muito do final :D

Vamos por a Inês a ir ver um espectáculo do Márcio e entender que afinal era não era a unica deformada e incompleta? Seria giro :)

Pinky disse...

Olá aos dois,

Está muito mais leve e divertido o texto agora Pedro...sem dúvida...
Concordo com as sugestões da Esmeralda e apontaria ainda outras:

-É suposto eu afinal lutar porquê?- mudaria para - É suposto afinal lutar porquê? o eu é desnecessário

- Eles são bons pais como eu (fui)!- concordo com a sugestão da Esmeralda...tenho dúvidas sobre a pertinência do fui

- Para os solteirões do clube de leitura? - antes de responderes logo que não...poderias colocar aqui outras questões. Para o meu ex? Para sair com as minhas amigas ou simplesmente para mim mesma? (...)
Não!

-croissant é uma palavra francesa internacional que se escreve sempre da mesma forma...

Acho que era muito giro continuarem esta história...

P.s. Isto aqui nos comentários não dá para sublinhar e colocar cores e assim torna-se confuso explicar as ideias de forma clara e visualmente apelativa...

Lobo das Estepes disse...

croissã aparece (apenas) no dicionário da INFOPÉDIA... ora bolas! Pois, eu sei que é francês... vou alterar... buah!

Lobo das Estepes disse...

Obrigado a ambas pelos comentários, muito bons; gosto disto!

Respondo já a algumas coisas:

Cabrão porquê? Porque ficou com o cinzeiro? Mas se ela lho ofereceu?

Olha, porque se divorciaram, pelso vistos zangados, e se ela pudesse (ou tivesse coragem) pedia-lhe o cinzeiro de volta.

Mas se as peças que ela fez eram belas, porque é que não tinha talento?

Ela TEM talento, mas pensa que não. Tem baixa auto-estima, por isso não se valoriza, desiste, até da vida...

Vamos por a Inês a ir ver um espectáculo do Márcio e entender que afinal era não era a unica deformada e incompleta? Seria giro :)

Sim, seria, final feliz, previsível, moralista, hollywoodesco...

No me gusta! Prefiro que ela o mate! ahahah

Mas pode-se (posso, podes, podem, podemos) continuar... Sugestões?

Notas:

1) não era o marido da Inês que tinha o cabelo azul? ahahah

2) quanto aos reparos "técnicos", parece-me que têm razão. Vou reflecir e proceder às devidas alterações. Obrigado!

lenor disse...

para se ver que eu estive aqui: Lobo, ela ofereceu-lhe o cinzeiro mas o Alberto não o merecia!; evidente!; veio depois a saber-se!

Lobo das Estepes disse...

o Alberto não o merecia

IZATU! veio depois a saber-se que era um cabrão filho da puta! um egoísta embrutecido, um ser reptiliano!