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19 janeiro 2011

De Oswaldo Montenegro-ouve-se na SICNotícias

"E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio, Que a morte de tudo o que acredito, não me tape os ouvidos e a boca: porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio."

Que a música que ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste.
 
Que a mulher que eu amo,
seja para sempre amada, mesmo que distante:
porque metade de mim é partida,
e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo,
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta
a uma pessoa inundada de sentimento:
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que corre por dentro
seja um dia recompensada:
porque metade de mim é o que penso,
e a outra é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto, o doce sorriso
que me lembro ter dado na infância:
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei.

Não seja preciso mais que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito,
e que o teu silêncio me fale cada vez mais:
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma reposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar:
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada,
porque METADE DE MIM É AMOR, E A OUTRA METADE, TAMBÉM.

Youtube » Metade - Oswaldo Montenegro

3 comentários:

Lobo das Estepes disse...

WOW! isto merece ser divulgado! :D pelo menos um link no ECUA@FB

o inicio fez-me lembrar que escrevi qq coisa sobre o medo, xa'ber...

Podeis tirar-me tudo menos o medo!


A esperança: taça que não sacia
agarra-nos bem forte as ancas
qual indigente procurando abrigo
num par de asas brancas.

Os teus olhos: escada incansável
que subo ágil ao nascer da aurora
são a ponte donde prometo lançar-me
ao rio lodoso de gente que labora.

O medo: arrepio de gaivota
impele-me ao regresso do voo adiado
para serenar depois no teu regaço
meigo, cansado e orvalhado.


by
Lobo das Estepes :: 2009


Sobre a origem do título: dizem que Muñoz Seca, famoso humorista espanhol, foi condenado à morte durante a guerra civil de 1936-39 por ter zombado dos comunistas; e que, antes de ser fuzilado, teve ocasião de fazer uma declaração solene: "Podeis tirar-me a fortuna, podeis tirar-me a honra, podeis tirar-me a vida! Mas há uma coisa que não podereis tirar-me: o medo que tenho de vós!"

FÁTIMA PAIS disse...

Se vires a SICNOTÍCIAS este poema aparece declamado maravilhosamente.Foi lá que o descobri, escrevi umas linhas e procurei na net.

Lobo das Estepes disse...

nem sei se tenho aqui a sic-n, lol
eu é mais axn