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12 janeiro 2011

O incêndio na escola do meu coração: memórias soltas da minha infância

Lembro-me de adorar ir à escola e de transformar o início de cada ano novo escolar numa azáfama mágica, como a dos duendes em vésperas da entrega dos presentes de Natal. A ansiedade de comprar os livros novos e o desejo insaciável de ter uma mochila, um estojo, uma borracha ou uma simples caneta nova, para levar comigo no primeiro dia de aulas, faziam o meu coração mudar de cor, tal como acontecia com as folhas das árvores, naquela mudança de estação.
Recordo-me de passar muito tempo na escola, onde a minha mãe trabalhava – a ler, a desenhar, a colorir, a recortar, a colar – e sobretudo a ouvir as conversas daquelas pessoas, que já não tinham a minha idade. Pareciam  sempre  tão apressadas e nervosas. Apesar de tudo isto, não me lembro do meu primeiro dia de aulas e confesso que as minhas memórias de infância são como um dia de nevoeiro no país do chá e das bolas de neve.  A escola sempre foi a minha segunda casa e já não me lembro do primeiro dia que lá entrei, pois devia ser um bebé de colo.
A minha mãe conta que em no ano em que entrei para o pré-escolar, fiz uma birra enorme e fartei-me de chorar, porque não queria lá ficar. Já não me lembro disso, mas recordo-me bem das cenouras que a minha amiga dinamarquesa comia e da caixinha de areia onde brincávamos horas infinitas. Ahh…também me lembro bem de adorar brincar!!! O meu pai repete vezes sem conta que quando me chamava para regressar a casa, depois de um longo dia de brincadeira, eu dizia que não estava cansada, porque não tinha brincado nada. Na verdade, lembro-me de ser criança, mas já não me lembro da criança que fui. As fotografias são muitas...e isso ajuda a enriquecer as recordações. Tenho saudades desse tempo, que já não volta, mas sinto-me feliz porque aconteceu!
Recordo bem o dia fatídico em que cheguei à minha antiga escola primária – a escola do meu coração –  e vi as labaredas de fogo a consumirem o edifício como se fosse uma caixa de papel. Essas malditas labaredas perseguiam-me como se fogem dragões saídos de um filme de ficção científica. Eu estava triste e cansada de correr de um lado para o outro para as tentar afastar da escola. Os meus colegas de turma  gritavam muito e as lágrimas escorriam-lhes pelo rosto  como cascatas limpídas e tranparentes. Os bombeiros lutavam contra aqueles fantasmas vermelhos, com os jactos de água das suas mangueiras compridas e velozes, que me faziam lembrar serpentes encantadas.  De pijama e roupão,  os pais das crianças agradeciam o facto do incêndio ter sido de noite e de não estar lá ninguém dentro. Quando lá entrei, horas mais tarde, depois dos bombeiros terem apagado o fogo, estava tudo em cinzas. O cenário era de destruição. Estava tudo negro e desconfigurado e eu já não reconhecia a minha sala, nem a minha cadeira, nem os meus cadernos novos, cheios de belas composições escritas à mão.  Comecei a ouvir a sirene dos bombeiros já longe, mas quando dei conta, acordei e reparei que era o despertador, que me libertava deste pesadelo recorrente.


Resolvi escrever acerca deste meu pesadelo de criança, pois pareceu-me mais interessante e do que aquele que  escrevi na aula, com o qual não fiquei satisfeita!

Feliz ano novo de 2011 para todos!!!!!!!!!!!

3 comentários:

Pinky disse...

Venham os comentários e os reparos... se os houver...mas venham...

Lobo das Estepes disse...

oh, agora tou aborrecido com a porcaria do blogger! parecendo que não, fazer os reparos cansa, e exige tempo. por isso é q pouca gente os faz...

a ver se amanhã, mais bem-disposto, passo um olho atento neste texto.

Pinky disse...

Thanks....já tenho o meu portefólio quase prontinho...só falta rever os textos inéditos...esta semana tá dosse...com dois trabalhos para entregar...mas depois sabe bem...entregar tudo...dá aquela sensação maravilhosa de missão e dever cumprido...