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20 janeiro 2011

mulheres

a todas as colegas da turma

pedro, depois arranjo um para ti (ou nós)


todas as tardes me assomo à janela
e oiço o balançar do vento nos pinhais.

há muito se silenciaram os sussuros das mulheres
quando deixavam o vale, rumando ao colo dos donos.

lembro-me quando descia às lezírias
para espiá-las: ruminando ao sol,
aguardando a cobrição do vento...

chegava-me a elas, na calma do poente.

deslizava-lhes a mão pelo dorso manso,
sentia-lhes o calo da vara, as ígneas marcas de posse.

ajoelhava-me junto aos ventres macios,
escutava o cadenciado pulsar das memórias.

cheirava-lhes o sexo quente e luzidio,
sorvia-lhes do úbere a água cristalina.

deitava-me com elas na terra quente
embalado pela lenta canção do estio.

essas mulheres, a fiar-me na palavra dos ciganos,
consta que foram todas mortas e vendidas.

disse-me um, muito velho, muito magro:

não se deve matar uma mulher espezinhando-a,
porque ela se multiplica e solta depois
muitas outras mulheres, sujas, pelo sexo.


terminou, depois, muito sério:

há-de, a mulher, ser morta com um pontapé
fulminante, no coração.


lobo das estepes @ julho de 2010


banda sonora » "Dark Night Of The Soul"
by The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble

3 comentários:

CIGANA disse...

Muito bonito. Obrigado Pedro (the Wolf) pela parte que me toca :))

Gostei também do sound track

tb disse...

A morrer que seja com um pontapé no coração... :)
Não sou da turma, mas sou mulher por isso posso sempre comentar cá. :)))*

Lobo das Estepes disse...

TB, não és da turma mas és mulher, escreves, és criativa (e até nasceste no distrito que aveiro). podes sempre portar aqui! :)*