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11 janeiro 2011

A CASA: ou o convite ao interior de um pesadelo


Quero acordar e não consigo. Entro em pânico e olho à minha volta. Desnorteadamente.
Ao longe, vejo uma CASA. Caminho na sua direcção. Ou antes, tento caminhar, porque as pernas pesam como chumbo. Mas continuo a andar. Teimosamente. Penosamente.

A CASA está agora mais perto. Assustadoramente perto. E é enorme. Parece uma mansão vitoriana saída de um filme qualquer do Alfred Hitchcock. As paredes negras e frias escondem segredos e as janelas, arqueadas e arregaladas como olhos gigantes causam-me arrepios. As árvores nuas sussurram…ou será que suspiram? Quero fugir. Quero sair dali. Mas a CASA chama-me e os seus portões de ferro forjado abrem-se como um convite.

Hesito. Olho para trás e vejo apenas a escuridão. Apenas A CASA com os seus portões escancarados, à espera de mim. Lentamente, com o medo a escorregar pelas pernas, entro na CASA que me engole.

Vejo-me agora num salão de mármore onde crepita uma lareira. Sinto o calor derreter e o medo invadir o meu coração gelado. Sento-me no cadeirão de veludo branco que surgiu do nada, como um gesto de alívio. Já não quero acordar. Quero ficar ali para sempre. Aninhada no cadeirão. Vendo as chamas a estalarem e a deixar o calor envolver-me como um abraço terno.


Oiço um som. Uma gargalhada que emerge como uma bolha de ar. Viro a cabeça num gesto brusco em direcção ao som. Sigo a gargalhada com os olhos e encontro, enroscada num canto uma criança. Sem sexo nem idade, apenas uma criança que ri. Sorrio. Levanto-me e caminho para ela estendendo os braços. Mas ela já não está ali. Corre agora por um corredor sem fim, cheio de portas. E eu corro atrás dela. Chamo por ela. Pergunto-lhe: onde vais? Mas oiço apenas as suas gargalhadas como resposta e continuo a correr.


Corro agora sem parar e reparo com horror nas cobras que infestam o caminho. Rastejando e enrolando-se nos meus pés. Tento sacudi-las com pontapés furiosos, mas elas prendem-me os pés com os seus corpos repelentes. Escorregadios. Desesperada continuo a correr.
A criança perde-se ao longe e confunde-se agora com a CASA. Desvanecem-se ambas num horizonte violeta. Tento ainda alcança-las num esforço derradeiro, mas já não vejo nada.


Tudo está agora silencioso.


Só oiço o palpitar do meu coração. E o despertador que insiste em soar teimosamente nos meus ouvidos.

3 comentários:

Lobo das Estepes disse...

Ou antes tento caminhar

caminhas ou tentas caminhar? acho q ficou confuso, percebe-se. basta uma ligeira mudança para ficar bem.

ou serão que suspiram

tecla de acento ao lado :p

com o medo a escorregar pelas pernas

xixi? lol, just kidding

Sinto o medo derreter e o calor invadir o meu coração gelado.

ficava melhor ao contrário...
calor invade -> derrete

Uma gargalhada que emerge como uma bolha de água

já no ano passado chamei a atenção do prof para isto: as bolhas não são de água, são gasosas. mas pouca gente reparará neste pormenor técnico.. adiante...

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muito boas imagens neste texto, parabéns!

acho que ganharia em mudar algumas delas de comparação para metáfora.

e deves limar algumas falhas que não apontei. basta que releias o texto, 2, 3 vezes, para as detectares todas.

um texto muito bom! princípio, meio, e fim. inveja...

Pinky disse...

OLá Linda,

Gosto muito das imagens que criaste e penso que o Pedro apontou já os aspectos principais a corrigir, tendo-se esquecido da pontuação...pode ser só impressão, mas acho que há algumas frases, vírgulas e mas no início das frases que podem ser melhorados!

Kisses
Ana

CIGANA disse...

Obrigada pelas tuas observações.
Já corrigi o texto.
Em relação ao "Caminhar" e "tentar caminhar" não creio que haja confusão, porque eu esclareço a intençãp de caminhar com um "ou antes, tento caminhar, porque..."
Uma imagem tipica de um pesadelo. Quando estás a caminhar, mas tens imenssa dificuldae.

Ana.. Obrigada também pelo comentário. Não creio que haja necessidade de corrigir a pontuação. Ela foi feita assim, de propósito. É uma forma que que tenho de escrever.

Beijnhos :))