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13 janeiro 2011

Exercício » Narrador


"Imagine que se encontra na sala de espera de um aeroporto internacional, de madrugada, aguardando a chegada do seu voo para Inglaterra, e rodeado de outros passageiros."

Narrador: primeira pessoa

Personagem: "Um homem alto e musculado, cabelo cortado à escovinha, óculos escuros, algumas cicatrizes no rosto, sem um dedo numa mão, fato azul-escuro, olhando constantemente em redor, e apenas com uma pasta negra como bagagem."



Aquela pirralha negra está a irritar-me cada vez mais, aos pulos e aos guinchos como um caniche. Se não fosse o estarmos num aeroporto europeu, com tantos seguranças, tirava o Colt da pasta e metia-lhe um balásio mesmo no meio dos olhos! Oh, se não metia! Como seria lindo ver o seu sangue de negra a formar uma poça cada vez maior no chão de mármore, e o seu corpinho tinhoso e escuro a cobrir-se de formigas. Pena não estarmos em África!...

A falta que sinto daquelas missões, onde tudo era possível e quase ninguém se importava; e os poucos que chegaram a importar-se... tau!, um balásio, e é vê-los a encherem-se de moscas. Aquilo lá na terra dos pretos é o novo Far West, é lá que me sinto bem: nos capins, nos bares de putedo cobertos de pó — sim, os bares cobertos daquela estúpida poeirada castanha que se nos cola à pele, misturada com o suor, até parecemos uns raios duns pretos; e as cabritas, com a cara coberta de pó branco, escanzeladas, mas com bons cus e umas mamas arrebitadas. Aquilo lá é que é, foda-se!, não é aqui na Europa, metido num fato emprestado, a fazer recados a uma puta metida a patroa.

Raios a partam! Aquela ruiva de figura sinuosa e mais cicatrizes no focinho do que eu bem que me tramou. É esperta, a puta! Lá nisso não posso deixar de a gabar... Esta ida a Inglaterra para lhe comprar "a cena" ou lá que merda é que este dinheiro vai pagar, está a sair-me pior do que uma ida ao inferno. Aposto que tem aqui algum capanga para me vigiar. Se o descubro... caralho!, meto-lhe um balásio no meio dos olhos! E raios me partam se quando voltar a África não trato da saúde à puta da ruiva! Oh, se não trato... E depois, é ver-me a comer camarões do tamanho de panados e a beber cerveja até rebentar. Isso é que vai ser!

Diabos levem a preta! Voltas a olhar prà'qui nem sei o que te faço...

Preciso de relaxar; tu controla-te, pá. Aquela jovenzinha de collants vermelhos e t-shirt da Hello Kitty é que me aliviava bem. Vem ao papá, vem! Miau! Levava-a ao WC e fazia-a guinchar como um caniche; oh, se fazia! Putinha boa, destas não há em África... Muito gosta ela de ter as unhacas na boca, eu dava-lhe com que se entreter; oh, se dava! E ai dela que me mordesse... Metia-lhe um balásio! Mesmo no meio dos olhos! Metia, metia!...

Tau! Já está.
E nem doeu nada, pois não?...

4 comentários:

Pinky disse...

Ohhh Ohh...tanto balásio que já estou a ficar tonta...lol...vê lá se as asneiras passam na revisão...gostei da imagem do caniche e do camarão...

Edera de Diana disse...

O personagem manifesta devaneios de uma mente agitada e perseguida de loucuras, inseguranças e necessidade de autopoder... com umas gramas a chegar a kilos de psicose...!

TB disse...

a mim não doeu nada mesmo e ao personagem como parece não ter muita consciência penso que também não. O texto ficou aquém da expectativa.

beijos, TB

CIGANA disse...

Gostei da mistura que fizeste dos outros personagens (a miuda negra e a francesa) e gostei ainda mais do teu poder de observação (a miuda não era só negra,vestia uma t-shir) Hello Kity) LOL

O estilo é pouco convencional. Images violentas, de uma personagem psicopática (um possivel terrorista LOL), uma linguagem cheia de calões e asneiras... (faz lembrar o livro da Susanna Moore "in the cut")

é o que eu digo, deves escrever policiais LOL!!