"JUDAS I. tinha um olhar sempre enviesado e isso fazia com que os seus olhos, que esgueirava e fechava levemente ao dirigi-los para pessoas e coisas, ficassem muito escuros.Somente vários séculos depois se deu por essa particularidade e foi um pintor renascentista que descobriu no olhar de Judas I. uma tendência para as sombras." (João Tomaz Parreira)
Conto publicado in Bestiário
6 comentários:
Sr Parreira, encontrei uma gralha! :D
"não o arrancaria do seu refúgiona sombra"
os olhos no soslaio não seriam mesmo estrabismo?
O Lobo leu o texto com atenção, e eu agradeço. Mas leu-o na edição da revista electrónica que o publicou, e alguém ao editá-lo "cometeu" a gralha! E o Lobo "encontro-a", eu próprio dei por ela, só que nada pude fazer.
Mas dizia-se antigamente que tudo se perdoaria a dois tipos de profissão: tipógrafos e poetas.
Quanto a um possível estrabismo de Judas I., não há notícia de que ele fosse estrábico.
Ele andava de esguelha com Cristo e os restantes apóstolos, isso andava, mas era do ponto de vista moral, da falta de rectidão no seu procedimento; ele olhou de lado, nessa noite no Cenáculo, e, sem ter estado lá, Leonardo da Vinci retratou bem esse olhar de soslaio.
Essa gralha é não mais do que um "erro persa" num texto tecido com tamanha mestria e dedicação.
Agora que penso no Judas, esse velhaco!, e no seu hipotético estrabismo [a ausência de prova não constitui prova de ausência, certo?] lembro-me que tive um gato: esse sim, estrábico.
um dia levou as garras ao bacalhau da minha mãe, que estava de molho [salvo seja...]. não o enforcamos, não senhor, mas levou um correctivo que lhe serviu bem de lição: não cobiçarás o bacalhau alheio!
Lobo: [a ausência de prova não constitui prova de ausência, certo?] Certo, e mais: estamos perante outra tautologia ( + ou -).
Gostei da estória do gato; ah, um pormenor que eu sei que o Lobo sabe: Ninguém enforcou Judas, e quando digo Ninguém, estou a ser meta-histórico: o suicídio por enforcamento é sempre feito por "ninguém". Mas isto levar-nos-ia ao problema ontológico do Ser heideggeriano. Conto-lhe o episódio camusiano (A.Camus): O sr. X escreveu na porta do seu quarto: "Entrem, eu estou enforcado."
Mas ele já não "era".
boa chamada de atenção: a diferença entre "estória" e "história". quanto à veracidade do episódio relatado, não confirmo nem desminto...
eis outra técnica que funciona sempre bem: "como (bem) sabe(s)".
há outras, devíamos também compilá-las. ocorre-me:
- mas quem sou eu para
- ensinar a missa ao vigário [ou será: vígaro?]
quanto ao enforcamento, como tenho formação em engenharia: concordemos em que discordamos. ontologia é já demasiada areia para o meu camião. de qualquer forma, creio que o citado episódio camusiano se não aplica; mas quem sou eu...
Concordemos então em discordar, gosto da fórmula.
Assim, parece-me, cessarei a minha dança(das palavras) com o Lobo, no que concerne a este "post".
Outras danças se seguirão, estou certo.
Obrigado também pelas partilhas.
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