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14 novembro 2010

Vistas do meu carro

O português puro tem um sítio próprio para exercer o poder- a bomba de gasolina.
Chega, de carrito ou de carrão,  ocupa a bomba de trás, de modo a que ninguém mais possa abastecer. O veículo fica sempre a obstruir  a faixa, para que ninguém ouse passar para a bomba da frente. Ó ultraje!
Não paga em dinheiro, mas sim com cartão, para que o reino dure mais uns bons minutos.
Vai tomar um café e discutir futebol.
Os que estão na fila, e que fariam exactamente o mesmo, começam a buzinar e a dar largas aos conhecimentos de língua portuguesa que têm, que se resumem aos substantivos merda, filho(a) da p_ _ _,e ca_ _ _ _o, ao verbo fo_ _ _ e ao adjectivo verbal fo_ _ _ _! Também usam imperativos com base no léxico básico acima!
A fila já vai longa e entram as “esposas” dos ditos, com conhecimentos linguísticos um pouco mais desenvolvidos, que já incluem as orações condicionais e um grande grau de vidência, provado pelo “ O que tu queres sei eu!”.
Abasteça em Espanha se se quiser poupar a este suplício, ganhando tempo e dinheiro!
Se sobreviveu, conte com outro fenómeno- os engarrafamentos por curiosidade mórbida e uma nova modalidade- observar os movimentos de máquinas de desaterro em terrenos próximos da auto-estrada. Os ingleses têm o bird-watching, os portugueses descobriram as delícias do caterpillar-watching. Não há horários a cumprir que os detenham.
Evite as estradas portuguesas- só se lá morre uma vez, mas suportar o descrito e, com pressa, lembra-nos o velho ditado: “ Mais vale a morte que tal sorte.”
E já agora, lembre-se de que tem cinco dias úteis para pagar as CCUT, sob pena de ter snail mail , com cumprimentos do Estado!


1 comentário:

Pinky disse...

Bela crónica Fátima---Já pensaste em escrever para revistas/jornais! Acho que tens talento!!!

Kisses