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06 novembro 2010

Sensações

Mais uma vez tinha adormecido no sofá. Não vale a pena tentar ver um filme, adormeço sempre. Olhos semi-cerrados, já agora fico aqui o resto da noite.
Ouvia-lhe a respiração, sentia que ele se espreguiçava, que virava os olhos doces para mim, quase adivinhava que ao mexer-se para se enrolar, ele ia ficar com um olho aberto, à espera que eu fizesse ou dissesse alguma coisa, me mexesse, como de costume.
Preferi ficar como estava, se calhar já a sonhar. A atmosfera daquele dia 14 de Outubro de 2008 voltou de novo, à sala ou ao sonho. Um silêncio de paz que nunca tinha ouvido, corpo sem dores, e ainda a presença física da minha mãe. Devo ter sentido o mesmo na noite de 19 para 20 de Maio de 59- a última em cama líquida e quente, antes da partida para cá. Ainda a sonhar, achei que tudo o que sentia não era a partida definitiva.
-Mãe, estás bem?
Ouvi um sorriso e um sussuro:
- Estou longe, mas vejo que tens companhia. Agarra-te a ela!
Estendi uma mão, senti o negro da máscara, as manchas castanhas e as brancas e aqueles olhos, bem abertos, a fitar-me. Pêlo de seda, como só ele tinha!
- Acho que também vou dormir, ouvi-o dizer.
Respondi-lhe do sonho, que não me deixava falar:
- Amanhã levo-te ao veterinário!
A pata que ainda mexia fez-me uma festa.
Na manhã seguinte, 14 de Setembro de 2010, embrulhei-o na grande manta de xadrex e estive uma hora agarrada a ela.
Quando acordei, já só havia uma coleira vazia, com a medalha ainda ligeiramente dourada, onde se lia:
                                                                          Hugo
                                                                          Tlm: ............
                                                                       xxx@gmail.com
 

      
                         
                   

1 comentário:

Lobo das Estepes disse...

sweet, touching, ... stole my words...

sad, sad song (m.ward)